terça-feira, 30 de setembro de 2008

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por uma vez

Há um poema de Rui Pires Cabral que termina assim: "Por uma vez, que valha a pena morrer." A minha incapacidade para recordar mais do poema de uma forma mais precisa é desanimadora. (Tenho procurado o livro aqui por casa mas não dou com ele; depois o encontro, depois aqui coloco o devido poema.) Quando voltei de viagem contaram-me sobre Newman, sobre as semanas de vida que lhe restavam, sobre a alta que pediu e o querer morrer em casa. E lembrei-me da frase do poema: "Por uma vez, que valha a pena morrer."

É raro não teres um actor favorito. Mais raro será se te julgas cinéfilo ou aferrado na coisa. De verdade que nunca tive resposta pronta para o tema (nem resposta pronta para o tema 'actriz favorita', dá igual*). Mas respondia, a ferros, Paul Newman.

Há Brando e Dean; Cary Grant e Stewart; Fonda e Bogart; Widmark que morreu faz pouco; há Montgomery Clift; Pacino e De Niro; o Redford com quem Newman fez rica dupla. Tudo gente evidente que dói. Os de agora que prezo: Norton e Seymour Hoffman e Depp. Os franceses: Belmondo; o Delon solitário e mudo dos filmes do Melville; o Léaud caprichoso do Truffaut. Ou Richard Burton e William Holden. Ou Mitchum ou Mitchum. Ou Christopher Walken ou Christopher Walken. E faltará aqui sempre alguém.

Mais do que actores, toda esta gente fez parte do meu imaginário de muito puto ou adolescente ou (vem aí repelente expressão:) 'jovem adulto'. À margem deste colectivo imenso, na minha memória sempre correu e sobressaiu Newman.

Convém explicar por esta altura que isto não é um obituário. Não escrevo ou escreverei sobre as características de Newman actor, de Newman piloto, de Newman activista político ou do seu sólido-como-tudo-casamento com Joanne Woodward. Podia tentar fazê-lo, mas era coisa para me arrepender: 1) a falta de talento para tal impera, 2) há quem já o tenha feito estupendamente bem. Aqui só se tenta explicar de onde deriva o meu fascínio por Newman.

Não há como negar: se hoje sou capaz de apontar Newman como meu actor de eleição, muito será pelas semelhanças físicas com mi padre (e só deixei de associar os dois nesta última década e picos de Newman - e por estes dias, o meu bom velhote recorda-me um tipo argentino, actor também ele, Federico Luppi). Eu funciono assim, com esta ligeireza no pensar: Newman era o meu pai, o meu pai era Newman; um e o outro sempre se confundiram por estas bandas.

O meu Newman de puto está em "A Cor do Dinheiro", de Scorsese, um Newman de meia idade como o meu pai então era, de olho azul, bigode, cabelo grisalho. Elegante. O meu Newman de hoje estará em "The Hustler / A Vida é um Jogo", de Robert Rossen.

Seguem-se na lista "Hud", de Martin Ritt, e "O Veredicto", de Lumet. Este último revi há poucos dias - agrada-me aquela personagem atípica em Newman: nada controlado, pouco 'cool'; todo ele sempre à beirinha da ruína (e cá fico com pena de Newman não ter feito muitos mais papéis destes, de 'alma frágil'). Amo muito aquela cena final do filme: não o prodigioso discurso em tribunal (escrita de Mamet, está visto), mas aquele minuto último, aqueles segundos últimos, o toque sem cessar do telefonema de Rampling que Newman não atende: o remorso (?) dela, o orgulho dele. Gosto daquilo - atinge-me no sítio certo.

E tenho "Torn Courtain" em óptima estima, prazer cá meu que me obrigo a rever uma vez por ano. Outro que tenho em alta estima e paradigma do bom envelhecimento de Newman: "Nobody's Fool", de Benton, filme que vi numa cadeira da faculdade.

Faltar-me-á ver "Hombre" e "The Left Handed Gun". Faltar-me-á rever muito da década de 70 e os Tennessee Williams que vi quando criança e pouco recordo...

Chega por hoje. Tenho os horários trocados, a mente entorpecida. Que isto fique escrito apressada e atrapalhadamente sobre Newman e bastará.



* é mentira descarada: Gene Tierney (e não por fazer lembrar a minha figura materna).
** tipo espirituoso, além do mais: "Newman, o crítico sucinto".

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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2.90 €

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Só mesmo para isto: estão a 'oferecer' a edição portuguesa do romance de estreia do Pynchon na Valentim de Carvalho do Saldanha Residence.

(adenda: também se 'oferece' por lá isto, "Primary Colors: A Novel of Politics", do anónimo Joe Klein da TIME.)

domingo, 28 de setembro de 2008

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sábado, 27 de setembro de 2008

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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

isto anda irrespirável


Mihály Víg

terça-feira, 16 de setembro de 2008

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'Plano da semana de formação (15 a 19 de Setembro):'

(...)

IMPRESSIONISMO

/119/

Conheces aquela do Renoir? Já no fim da vida levam-no a uma exposição que lhe era totalmente dedicada. O velhote ia pelo braço de um filho. Só viu dois ou três visitantes - era a obra de toda a sua vida! Sem perder o senso de humor, disse ao filho: "Bem, só me resta pedir desculpa."

(página 125)


("Albas", Sebastião Alba, Quasi)

domingo, 14 de setembro de 2008

A Londoni férfi

Quarta que vem, dia 17, a Cinemateca tem um dia todo ele bestial. Às 15h30, o meu Lubitsch de eleição, "The Shop Around the Corner"; às 19h, "If...", filme de Lindsay Anderson que teima em escapar-me há anos; às 21h30, "Week End", de Godard, outro que nunca pus a vista em cima; e às 22h, "O Homem de Londres", último filme de Béla Tarr. Gostava de ser reformado ou de ter mais uma semaninha que fosse de férias - é altamente improvável que consiga ver seja o que for de tudo isto, mas farei os impossíveis para me escapulir do sítio onde estarei para ver "O Homem de Londres". Se me dessem a escolher um só filme para ver este ano, era este o eleito.

FAZER E DESFAZER

/223/

Lê hoje, se puderes, o primeiro parágrafro de "O mito de Sísifo", de Camus. Meu pai teve, aos 35 anos, um amigo íntimo que era Major do Exército. Todas as noites se encontravam no mesmo café. Ele era alto e vigoroso; à mesa nunca deixava que ninguém pagasse as contas; trazia sempre no bolso, conta meu pai, rebuçados para as crianças.
Não casou, mas amava as mulheres. Nenhuma em particular. Um dia, com uma Walter 7.65, meteu uma bala na cabeça. Deixou um bilhete: "estava farto de abotoar e desabotoar os botões do dolman". Meu pai leu-o, estupefacto. Quase 50 anos depois, o meu velhote ainda diz que morrerá sem entender aquilo.


(página 135)


("Albas", Sebastião Alba, Quasi)
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Fotografia que conheço desde niño - o meu velhote sempre me fez lembrar Newman e os Ray Ban acentuam a memória. Fotografia de Leo Fuchs a Newman durante as filmagens de "Exodus", de Preminger. Vi-a aqui, n'O Acossado, e não resisti em roubá-la sem pudor algum para aqui (as minhas sinceras desculpas). (Devo ainda confessar que estive vai não vai para roubar também este vídeo dos Vampire Weekend.)

a vida nova

Cruzei-me com ela na sexta. Olhares de relance e seguimos cada qual para seu lado. Com uma calma olímpica de admirar. Depois secou-me a boca e caminhei como um autómato durante mais de meia hora. Não sei se devo esquecê-la. Penso apenas que não me convém. Doía-me por demais a consciência se me esquecesse dela por completo. De verdade, não creio sequer que possa esquecê-la. "Passa uma esponja pela memória, rapaz." Mañana começo vida nova. "Vida nova", aqui está uma expressão que me merece máximo desdém e que escuto volta não volta. Que desassossego, meu Deus. Um batalhão de formigas parece que percorre os meus nervos. No final, negligente, folgado e diletante em doses iguais como sou, dará igual, e recuso-me a pensar seriamente no que aí vem. Faço projectos e descarto-os; este será mais um. Duas pessoas que mal conheço (o tipo do café e a rapariga da caixa do supermercado) mais um amigo próximo repetem-me hoje igual pergunta: se vou ver a Madonna? Não, not my cup of tea. Meia Lisboa estará por esta altura na Bela Vista. Morro de chatice nos domingos; julgo que deviam ser abolidos.

a morte de Tchékhov

(...) Chéjov deliraba, hablaba del Japón y de un marinero. Ella le colocó una bolsa de hielo sobre el pecho. Y de pronto, recuperada la lucidez, él le preguntó: «Para qué poner hielo sobre un corazón vacío?»
El doctor Schwöhrer llegó a las dos de la mañana. «Ich sterbe - le dijo Chéjov -. Me muero.»
El médico le puso una inyección de alcanfor. Luego quiso mandar a buscar un tubo de oxígeno. Chéjov le dijo: «Es inútil. Cuando lo traigan me habré muerto.» Entonces, el médico mandó que le subieran una botella de champán.
Chéjov aceptó la copa que le ofrecieron y dijo: «Hacía mucho que no bebía champán.» Vacío la copa y se acostó de lado. Poco después dejó de respirar. Era el 2 de julio de 1904. (...)


('Antón Chéjov', Natalia Ginzburg, Acantilado)

Terna é a Noite

Quando será que as mulheres se compenetravam de que os homens só são vulneráveis no seu orgulho?

(página 241, ed. portuguesa Relógio D'Água)




(Retenho frases algures numa nesga de cérebro por dá cá aquela palha. Ficam soltas, incompletas. A propósito da morte de Tchékhov procuro um sublinhado - costume cá da casa - no livro de Fitzgerald. Se é que existe (?) não dei com o raio da frase; mas calhou bem ter sublinhado esta.)

revisões do último par de semanas


(o meu Wilder - ou este ou "Stalag 17")


(o meu Buñuel)


(um dos meus cinco ou seis ou sete filmes de Ray)


(o meu Altman)


(o meu segundo Altman)


(o meu Peckinpah)


(não o meu Cimino de eleição - que há "Heaven's Gate" e aquele outro)


(não o meu Eastwood de eleição - mas anda lá muito muito muito muito muito muito perto)


Volto sempre aos mesmos.
Como isto me assusta.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sebastião e Ernest

HEMINGWAY, AGAIN

/210/

Estou a reler pequenas histórias, de Hemingway. Em algumas, sente-se que o desencanto aprofunda ainda mais a sua simpatia humana, e que para isso não há consolo.

(página 132)


PARA ERNEST

/14/

Hemingway não é só um narrador ímpar, isolado: a mim segredou-me sempre que se cada um de nós soubesse reconhecer no adversário (ainda que ele fosse tão irredutível como um peixe ou um fascista espanhol) a dignidade e a coragem, quando as tem, não haveria vencedores nem vencidos e, talvez - quem sabe? - A sombra do fracasso jamais toldasse a existência humana.

(página 202)

SUICIDADOS

/133/

Passei o dia dos meus anos a pensar em dois episódios da vida de Ernest Hemingway.
A mãe escreveu-lhe um dia, admoestando-o, porque lhe constava que os livros que ele escrevera eram indecorosos, envergonhavam a família. Os livros, "Fiesta" e "Adeus às Armas", são hoje considerados dois clássicos da Literatura Mundial.
Não li a resposta de Ernest à mãe, mas tenho a certeza de que seria compreensiva e muito afectuosa.
O pai, que era médico, suicidou-se porque não tinha dinheiro para pagar uma dívida, nesse tempo eles tinham outro código de honta, como sabes. No dia em que o velhote fez aquilo, já estava na secretária dele, entre outra correspondência, uma carta de Ernest Hemingway, contendo um envelope para ele cobrir essa dívida. Mas o pai não abriu a correspondência... em vez disso, pegou logo no revólver: estava insone.
Como vês há outros pais e filhos. Que sofreram mais do que somos capazes de imaginar.

Contaram-me, num bar, que uma rapariga de 22 anos acabava de atirar-se para debaixo de um comboio. Pensei nas pessoas "importantes" que via passar às janelas das carruagens. Foram essas que a suicidaram. Pobre-diabo!


(página 214)


("Albas", Sebastião Alba, Quasi)


(nota: se "Fiesta" é sem esforço um dos livros da minha videca, o meu Hemingway é este livro de contos, "Men Without Women".)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

terça-feira, 2 de setembro de 2008

23 de Julho. 1946

Um discurso de comício é da mesma natureza que o rito religioso. Escutamos para ouvir aquilo que já pensávamos, para nos exaltarmos na fé e confissão comuns.


(Pavese, 'O Ofício de Viver', pág. 321)


(à boleia descarada das convenções - democrata e republicana)

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«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.