domingo, 14 de setembro de 2008

a vida nova

Cruzei-me com ela na sexta. Olhares de relance e seguimos cada qual para seu lado. Com uma calma olímpica de admirar. Depois secou-me a boca e caminhei como um autómato durante mais de meia hora. Não sei se devo esquecê-la. Penso apenas que não me convém. Doía-me por demais a consciência se me esquecesse dela por completo. De verdade, não creio sequer que possa esquecê-la. "Passa uma esponja pela memória, rapaz." Mañana começo vida nova. "Vida nova", aqui está uma expressão que me merece máximo desdém e que escuto volta não volta. Que desassossego, meu Deus. Um batalhão de formigas parece que percorre os meus nervos. No final, negligente, folgado e diletante em doses iguais como sou, dará igual, e recuso-me a pensar seriamente no que aí vem. Faço projectos e descarto-os; este será mais um. Duas pessoas que mal conheço (o tipo do café e a rapariga da caixa do supermercado) mais um amigo próximo repetem-me hoje igual pergunta: se vou ver a Madonna? Não, not my cup of tea. Meia Lisboa estará por esta altura na Bela Vista. Morro de chatice nos domingos; julgo que deviam ser abolidos.

Arquivo do blogue

«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.