quinta-feira, 19 de novembro de 2009

1) Bento*

«O povo tem sempre razão mas por isso é que se diz que o Sporting não é um clube do povo. Em 2000, Luís Duque anunciava a saída de Inácio a uma sala de imprensa cheia de povo verde e já com Mourinho, entretanto despedido do Benfica, secretamente contratado. A determinada altura gritou-se "ó Duque, todos menos o Mourinho, o Mourinho é que não", e Duque manteve o Special One em segredo até ao dia em que não aguentou mais esperar para gritar que teve razão antes de toda a gente. Ontem Bettencourt não cometeu o mesmo erro e lavou as mãos da decisão de despedir Bento. Foi Bento que despediu o Sporting da sua vida. Com quatro meses de atraso. Bento foi o melhor treinador do Sporting dos últimos 20 anos. O tempo dar-lhe-á razão, como um dia deu a Luís Duque.»

(João Almeida Moreira, num i antigo que para aqui tinha)

(...)

2) Nani

«Com alguns momentos menos bons pelo meio, como a fase dos assobios.
Foi uma fase má. Cada dia que ia para um jogo pensava que não conseguia. Pesavam-me as pernas. Os adeptos estavam mal habituados. Eu não era um goleador, um Liedson. Na primeira época, fiz um bom trabalho. Na segunda, comecei muito bem, a marcar golos, a oferecer vitórias como a do Nacional na Madeira. Mas depois a equipa começou a baixar de rendimento, por causa do relvado também, e começaram a cair em cima de mim. Vieram os assobios e eu caí na depressão: não conseguia fazer absolutamente nada.

E o desentendimento com Custódio?

Foi assim: era uma semana em que eu estava a treinar de uma forma espectacular. Ouvia o Paulo Bento: "Isso, Nani, isso! Espectáculo." Só que, dois dias antes do jogo, sofro um toque no joelho num treino e no último treino da semana, quando sai a convocatória, eu não estive tão bem e ouvia algumas bocas, que eu estava a relaxar. Depois, nessa sessão, o Paulo Bento fez-me trocar de colete com o Carlos Martins e fiquei a exercitar-me com os suplentes. Percebi que não ia ser titular e fiquei com azia. Deixei de passar a bola, a querer fintar tudo e todos e a perdê-la de forma estúpida. Há um lance em que a bola vai adiantada e o Custódio entra de carrinho e eu piso o gajo de propósito. Houve bate- -boca. O Paulo Bento vira-se para mim e diz: "Acabou!" E eu: "Foda-se, ele é que está a falar, não sou eu." O mister disse--me para pegar nos calçõezinhos e ir para o duche. E pronto.»

(Nani, o mais talentoso jogador a passar pelo Sporting nos últimos cinco ou oito anos, numa bela e cândida entrevista ao i - Nani, não esquecer nunca, um tipo sempre que possível assobiado pelo bestial público que povoa Alvalade)

(...)

3) Blazevic

«Foi treinado por Blazevic no Euro-96 e no Mundial-98. Como o define?

É um treinador peculiar. Não sei se bom ou mau, mas era aquilo que nós, croatas, precisávamos naquele tempo. Ele pedia-me o mundo, o universo e um pouco mais. Depois, eu cumpria a missão e ele autorizava-me a ir relaxar para um nightclub. Ainda hoje falei com ele por telefone.

Qual é a sua principal qualidade nas palestras?

Cuidado com a pergunta. E cuidado com a minha resposta. Como posso explicar? Hããããã, amanhã vocês são o Brasil, o 'fucking' Brasil. Ouve, uma vez jogámos com a Estónia e ele falou com tanto fervor que parecia que íamos jogar com o Brasil. Eu olhei para ele e perguntei a mim mesmo: "What the fuck are you talking about?" [O que raio estás para aí a dizer?]. Ele mente e nós acreditamos.»

(Slaven Bilic entrevistado por Rui Miguel Tovar, no i de anteontem)

(...)

4) Guti

«No me veo con 60 años en una discoteca hasta las seis de la mañana, me veo ahora»

(Guti, 33 anos, um tipo inteligente)

(...)

5)
Photobucket

(...)

*Este blogue gosta de Paulo Bento. Gosta de gente corajosa e de carácter e que te olha nos olhos para dizer as merdas que o cérebro lhe diz para dizer. Que Bento tinha pouca ou nenhuma margem de manobra para continuar? Sim, era uma evidência. Que Bento deu tiros nos pés? Sim, em ser conivente com a contratação de medíocres ou medianos jogadores; em acreditar que podia fazer igual aos outros (Benfica e Porto) com o desequilibrado plantel de que dispunha. Mas que ninguém seja ingrato, que ninguém tenha memória curta. Bento, sempre refém do mísero orçamento que muitos julgam poder desvalorizar, fez milagre e mais milagre em quatro anos e em idênticas condições (planteis sofríveis, rivais directos financeiramente mais fortes). Acreditou este ano noutro milagre que não veio nem viria. Bento foi mesmo o melhor treinador do clube nos últimos 20 anos. Quem não entender isto, quem não o souber respeitar, merecerá sempre pouco ou nada. Merda para a gente ingrata, para os revolucionários de pacotilha cheios de certezas, de planos infalíveis. Se Bento não era já solução para os mais graves problemas do Sporting, não seria, por certo, 'o problema' maior deste Sporting. Esse é básico que dói, o mesmo da última década (desde 2001/02, época de Bölöni (ou época de Jardel, se preferirem)): dinheiro. No caso, a falta dele para se poder atacar o mercado em condições de clube que se diz grande. Hoje, financeiramente, o Sporting está longe - longe é eufemismo - do estatuto de 'grande'. É natural que o Benfica seja candidato sério a campeão se nas últimas 3 épocas investiu para mais de 85 milhões de euros em contratações. (Anormal seria não ter a óptima equipa que tem com este nível de investimento.) É natural que o Sporting não o seja se em idêntico período investe 20. Enquanto isto não for resolvido que venha Carvalhal, que venha Villas Boas, que venha Jesus ou Mourinho. Dará parecido.*

*Tenho quase a certeza do que escrevi aqui para cima.

Arquivo do blogue

«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.