segunda-feira, 30 de junho de 2008
El Flaco
(...) Com as convicções que marcam a qualidade técnica dos seus jogadores, a Espanha impôs-se comodamente a uma equipa russa vulgar, que não acertou três passes seguidos. A Rússia não teve reacção anímica, nem jogo, nem atitude, e muito menos individualidades, que são reconhecidas quando uma equipa tem a bola nos pés para mostrar que é melhor. Acaba por ser nada.
Os gritos "incendiários" do seu treinador, Hiddink, não tinham efeito. O incêndio acabou como se o cenário fosse demasiado grande para ele.
Havia muitos anos que a Espanha não apostava neste estilo, muitos anos em que apostou no músculo e marginalizou o talento. Era fúria. Agora, juntou primeiro os que melhor jogam e com eles procurou um equilíbrio. Hoje, a Espanha é a coragem do toureiro e não o touro. (...)
César Luis Menotti, no Record deste domingo. Há que saber apreciar devidamente aquela camisa aberta até ao umbigo; não fica bem a qualquer um.
Mr. Ocean
- My wife left me. I was upset. I fell into a self-destructive pattern.
- If released, is it likely you'd fall back into a similar pattern?
- She already left me once. I don't think she'd do it again just for kicks.
(Ocean's Eleven, 2001)
"voltamos à análise científica de Rui Santos"
quinta-feira, 19 de junho de 2008
young Wiston
Escrevi o meu nome no cimo da página. Depois, escrevi o número da pergunta «I». Após muito reflectir, coloquei parênteses à volta do número «(I)». A partir daí, não consegui pensar em nada relacionado que pudesse ser relevante ou verdadeiro. Por acidente, apareceram na página uma mancha de tinta e alguns rabiscos, que contemplei tristemente durante duas horas, após as quais um piedoso contínuo veio buscar esta minha carapuça de bobo e levou-a ao reitor."
("Churchill", John Keegan, tinta-da-china)
quarta-feira, 18 de junho de 2008
não é o mais genial dos geniais artigos que li hoje e ontem, enfim, mas dá para perceber que o cérebro do Ray Allen é o mais depurado dos três
Yet the Celtics are a stunning 40-9, the best in the NBA. When you sit down with Boston's cerebral Big Three, they'll tell you about ubuntu, the South African unity principle preached by coach Doc Rivers. But dig a little deeper and you'll discover less esoteric explanations behind Boston's success.
Like thank goodness these guys stank last year--or at least their teams did. "First and foremost, it only works when you have guys who have been on teams that have struggled," says Allen, whose Seattle SuperSonics finished in last place in their division. "The three of us have carried teams in the past, and the only thing we need to prove is that we want to win a championship." Garnett missed the playoffs in Minnesota; Pierce admits that basketball became a "drag."
Celtics fans: you're lucky they're not young whippersnappers, dingbats in their 20s seeking the stats for an insane contract. "When you are young, you are trying to secure yourself," says Pierce, 30. (Read: Just give me the damn ball.) "You look at us three--we've made millions of dollars. We've won tons of awards. So we look at each other and say, 'Hey, what's left to do?'" Allen is 32, Garnett 31--old enough to buy their own team yet young enough to still score at will.
We shouldn't totally dismiss that more mysterious component of team success: chemistry. Kicking back in the players' lounge at the team's Waltham, Mass., training facility, Allen, Garnett and Pierce are loose, introspective and quick to pounce. Garnett calls Allen stubborn, and Allen predicts that if Pierce doesn't shave his head, he'll grow George Jefferson hair. The trio's personal history helps. Garnett and Allen were Olympic teammates in 2000 and have known each other since their South Carolina schoolboy days; Garnett and Pierce played as teens for the same Amateur Athletic Union team.
It's easy to get them going about issues. Allen thinks the NBA's interminable 82-game regular season waters down the action. "I would cut the games back," he says. "You're going to see a level of intensity go up." In a sports world consumed with wiping out drugs, Garnett, who was chosen for the Feb. 17 All-Star game but has an abdominal strain, would offer a curious reform. "We're drug-tested too much," he says. "We're very funny about our routines. The policy is set up now where, on game day, they can come get you, take you. If you can't go, you'll sit there--they'll hound you."
I ask them about two recent books, both written by African-American journalists, that argue that today's black athletes have largely abdicated their social responsibility. There's no compelling need for it, says Pierce. "We don't have to deal with a lot of racism. It's not as open and as broad as it was back in the day. And that's why there's not as many of us who step in that position." Each of them has done noble charitable work, but Allen argues that a big paycheck doesn't equate with a platform. "You could have made money picking up roadkill," he says. "Now you have this big company where you've got people all over the world picking up roadkill. You've got $70 million in the bank. That doesn't make you knowledgeable about world hunger." Allen's inquisitive mind often wanders off to unexpected, some would say bizarre, areas.
Yes, their chemistry is refreshing. But will the buddy act last if one of the Big Three itches for more shots? Will Allen, Garnett and Pierce be able to exorcise their postseason demons? Will a no-name supporting cast sustain the Celtics?
"Just because you haven't heard of someone doesn't mean they're not effective," says Garnett of Boston's role players. "That's exactly how you get beat." Garnett surely knows enough about losing. With his two wingmen, he can finally talk tough on how to win big."
(da TIME)
(vídeo da entrevista aqui - destaque para a referência do Ray Allen ao "Do the Right Thing".)
terça-feira, 17 de junho de 2008
a causa foi modificada:este sacana, num texto de 1500 caracteres, consegue falar do Rosado e da terra do meu pai *
Ide ver aqui o MacGuffin tentando produzir inveja. Uma pessoa quando vive em povoações que apenas devido ao acaso e à imprudência da Reconquista têm hoje a oportunidade de torcer pelo Cristiano Ronaldo, pelo Petit, pelo Deco e pelo Bosingwa, aglomerados semi-urbanos que, além do mais, são um peso incomportável para o orçamento devido ao paradigma da solidariadade do litoral com o interior, vem por meio de um presunto e da banda larga do guterres semear um pecado mortal na população cosmopolita e educada. População essa, aliás, de cujo suor sairam não só a auto-estrada, como,sintomaticamente, a ligação de Casa Branca a Évora, porque, é a realidade, o comboio não passa por Évora, foi necessário fazer derivar um ramal por uns quilómetros a partir da linha principal para que o excelente Intercidades lá chegasse. Claro que contra o presunto eu poderia colocar aqui a lista das peixarias a menos de 500 metros da zona de rebentação que podemos encontrar desde Caminha a Vila Real de Santo António. Mas não vou por aí. Basta referir-me ao pão. Vidigueira? Torrão? Bons pães, não duvido; mas como mihares de outros. Depois do peixe e do Diogo Rosado, a maior riqueza de Portugal é o pão. Custa-me que a magnificência da panificação portuguesa seja tão pouco laureada. O pão de Pernes, conhecem? Não faz mal, é tão bom como o de Martim Longo ou de Beja ou, ou, ou, ou. Os portugueses parecem-me tão competentes a fazer pão que até o "Pão Alentejano" da Casa Xandite da Costa da Caparica consegue ser estupendamente aceitável. Sempre me fez espécie.
* Este é, para todo e qualquer efeito, o melhor post menor do ano.
gente que pensa bonito
Avulsos
Estava na hora de Shyamalan começar a filmar argumentos de outros, tão pouco "Shyamalanescos" quanto possível. A ver se o seu talento deixa de estar sufocado pela beatice da sua "visão do mundo". Luís Miguel Oliveira, Ípsilon (a Propósito de O Acontecimento)Infelizmente concordo. Sempre me opus às acusações de naïvité e beatice lançadas à obra de Shyamalan (no que Žižek e Bénard da Costa, cada um a seu jeito, expressamente me têm apoiado). Mas a triste verdade é que começo a ficar sem argumentos para o defender. O mais grave é que a continuar nesta senda Shyamalan está a "decidir" retroactivamente o modo como alguns dos seus filmes, de recepção liminar, ficarão para a posteridade. Ora, isto é algo que abala a minha autoridade nas memoriosas mesas de café deste país. O Sexto Sentido, O protegido e A Vila, filmes que reputo, teriam beneficiado em muito de uma morte prematura do seu autor (às mãos de ETs, por exemplo). Mas enfim, há ali inequívoca centelha de génio. É cedo para desistirmos. Acho eu.
prova b)
Obama
"Obama é uma doença infantil pateticamente alimentada pela "esperança messiânica" da esquerda europeia, ainda mais infantil uma vez que o homem pouco tem de esquerda." É esta a tese dos lúcidos de serviço que nos querem proteger das nossas ilusões. Nada mais paternalista. Eles já perceberam que apoiar Obama obriga à ingenuidade de julgar que a Realpolitik americana se vai dissolver no ar; à ingenuidade de acreditar que se vão afrontar os interesses económicos instalados nos Estados Unidos; à ingenuidade de presumir que acabará o apoio militar a Israel; à ingenuidade de ver a retirada do Iraque como o toque de midas que trará hamonia à colónia. Na verdade, ingénuo é quem assim reputa os outros porque capazes de algum entusiasmo.O facto é que basta ouvir Obama falar de política internacional, da importância de saber dialogar com os inimigos (sim, como o Mário Soares), da importância do multilateralismo (leiam as declarações dele sobre o Irão), da importância de tirar a religião da política, da importância de se acabar com chantagem do patriotismo e da insegurança, etc. para se chegar à brilhante conclusão que depois de Bush não é preciso um messias para fazer toda a diferença. Sim, a eventual eleição de Obama carrega vastas esperanças após 8 anos indecorosos de política americana. So what?
daqui: avatares de um desejo
AMANTES AMANTES
são as crueldades entre amantes.
Como resistir de cabeça erguida
ao invasor que a saqueia? Um inimigo
não chega tão fundo, arremete contra a superfície.
(Judith Herzberg, O que resta do dia, tradução de Ana Maria Carvalho, Cavalo de Ferro, 2008)
domingo, 15 de junho de 2008
feira do livro (2ª e 3ª levas)
+
"Uma introdução à vida de Churchill", Edições tinta-da-china (a barraca da feira mais deliciosa delas todas), 9,95 euros;
+
"Histórias de Amor", Robert Walser, Relógio D'Água, 14 euros;
+
"Contos de Kólima", Varlam Chalamov, Relógio D'Água, 2,5 euros;
+
"Noivado em S. Domingo", Heinrich von Kleist, Relógio D'Água, 1 euro (enganei sem querer a rapariga de sardas (linda de morrer); o livro era 2,5 euros; peço mais ou menos desculpa por isso);
+
"Israel e o Islão - As centelhas de Deus", Pietro Citati, Cotovia, não sei quanto que foi oferecido;
(Por lá ficou o novo Casares - ai, ai, ai -, aí setenta por cento do catálogo da tinta-da-china, e o livro do Ian Buruma sobre a a morte do Theo Van Gogh. A Cavalo de Ferro, abençoada, vai traduzir "A Fome" do Knut Hamsun.)
Adeus.
sábado, 14 de junho de 2008
Jesus Shuttlesworth
Nome da sua personagem em "He Got Game", filme de Spike Lee de que não gosto assim muito. É o mais fino jogador dos Celtics. Estou fartinho de perder dinheiro com as três vitórias daquela gente de Massachusetts (ora aqui está uma palavra que nunca na vida conseguirei pronunciar decentemente). Não me macem agora mais a vida e ganhem um jogo em três possíveis.
(guardar bem guardadinha:
Foi a primeira frase descritiva deste blogue e eu cá tenho memória curta.)
sexta-feira, 13 de junho de 2008
há que gostar sem hesitação alguma deste homem
Mea culpa: esqueci-me estuporadamente do Senna no texto abaixo.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Guti
Continuing To Live
Continuing to live — that is, repeat
A habit formed to get necessaries —
Is nearly always losing, or going without.
It varies.
This loss of interest, hair, and enterprise —
Ah, if the game were poker, yes,
You might discard them, draw a full house!
But it’s chess.
And once you have walked the length of your mind, what
You command is clear as a lading-list.
Anything else must not, for you, be thought
To exist.
And what’s the profit? Only that, in time,
We half-identify the blind impress
All our behavings bear, may trace it home.
But to confess,
In that green evening when our death begins,
Just what it was, is hardly satisfying,
Since it applied only to one man once,
And that one dying.
(Philip Larkin)
quinta-feira, 5 de junho de 2008
80's
4-1 para os Lakers, chama-se a isto gestão de expectativas, creio. Reparo agora nisto: os Lakers tinham tudo para ter a minha inestimável simpatia: sempre foram a equipa dos "talentos" - estou a pensar em Chamberlain, West, Magic, Baylor, Kareem, Shaq e Kobe -, e os Celtics sempre foram conotados com "trabalho" e "esforço" e "união nos momentos péssimos" e "mística" e todos esses lugares comuns que me enojam e me dão asco escrever. Ora deus nosso senhor sabe como abomino equipas dessa natureza, ora deus nosso senhor sabe como venero o "talento" - se preguiçoso e egoísta melhor ainda. Certo que Danny Ainge juntou Garnett - o mais competitivo bicho talentoso do universo - e Allen a Pierce, mas ainda assim Doc Rivers, o estafermo, fez daquilo uma "equipa"; e do outro lado está o génio infinito de Kobe. Que seja uma excepção, nada mais, esta minha afinidade pelos Celtics. (Ando muito apaixonado por todos os vídeos do Dan Quayle que encontro no YouTube.)
quarta-feira, 4 de junho de 2008
problemas danados
Consta - há quem esteja sempre disposto a lembrar-nos disso com um contentamento desmedido - que Barack Obama tem problemas, sérios, uma imensidão deles: o discurso ora é ambíguo ora é vazio, ora populista ora elitista (decidam-se); é o pastor mentecapto que não se cala por nada deste mundo; é a inexperiência do senador do Illinois que pode conduzir o país às maiores tragédias; é o eleitorado de Hillary que Obama não consegue conquistar, etc.. O primeiro argumento é de uso fácil e aplicável a qualquer candidato se a má vontade imperar; o segundo estará em vias de ser esquecido de vez por cansaço e/ou irrelevância da personagem pastor; o terceiro cai por terra se pensarmos que a experiência política de Bush, Cheney e companhia era inegável e resultou em zero - a "experiência" por si só nunca valerá de nada se os primeiros juízos forem errados; e o quarto tenderá a ser diminuído com a escolha do vice de Obama, seja a própria Hillary Clinton (não creio, não creio) ou Kathleen Sebelius ou outra pessoa qualquer - tenderá a ser diminuído e não erradicado pois falamos de eleitorado que tradicionalmente vota e votará em larga maioria nos republicanos, coloque Obama a vice quem colocar. Mas - e estive aqui uns bons minutos entretido a pensar com todo o meu génio sobre o assunto - parece-me que Hillary Clinton ainda tem mais problemas. A começar nisto: não conseguiu a nomeação do seu próprio partido. A acabar nisto: Obama conseguiu. É capaz de ser um problemaço danado para ela. McCain? Terá um adversário real a partir de hoje e isso dar-lhe-á a sua própria imensidão de problemas (a juntar à colagem com Bush que McCain tentará evitar como bem puder e os democratas deverão salientar frase sim frase sim até à exaustão). Mais: sem adversário concreto que vantagens conseguiu McCain desde a sua nomeação até hoje? As sondagens dizem que poucas ou nenhumas. Bottom line: problemas todos têm: Hillary seguramente mais que Obama; McCain na mesma proporção de Obama (pelo menos). Barack Obama passou na visão de muito boa gente de simpático e agradável candidato que iria aborrecer a vida de Hillary Cinton nas primárias democratas, a candidato utópico, frívolo, que, vejam lá bem, agora é forte candidato a ganhar a presidência dos EUA. A campanha de Obama é, suceda o que suceder em Novembro, notável e nunca menos que notável - há um ano, caramba, mesmo há meia-dúzia de meses, Hillary emergia como candidata óbvia do partido, e esta seria a sua hora. A senadora de NY como candidata democrata não era só forte probabilidade, era inevitabilidade. Que ninguém seja pateta e menospreze o caminho até aqui feito por Barack Obama - será sempre perigoso. O espectáculo, o verdadeiro, o tal "maior espectáculo do mundo" começa agora.
* não resisti: imagem roubadíssima ao blogue do Andrew Sullivan.
** são 01h03 e faltam cinco delegados para Obama garantir a nomeação.
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