segunda-feira, 30 de junho de 2008

El Flaco

Photobucket

(...) Com as convicções que marcam a qualidade técnica dos seus jogadores, a Espanha impôs-se comodamente a uma equipa russa vulgar, que não acertou três passes seguidos. A Rússia não teve reacção anímica, nem jogo, nem atitude, e muito menos individualidades, que são reconhecidas quando uma equipa tem a bola nos pés para mostrar que é melhor. Acaba por ser nada.

Os gritos "incendiários" do seu treinador, Hiddink, não tinham efeito. O incêndio acabou como se o cenário fosse demasiado grande para ele.

Havia muitos anos que a Espanha não apostava neste estilo, muitos anos em que apostou no músculo e marginalizou o talento. Era fúria. Agora, juntou primeiro os que melhor jogam e com eles procurou um equilíbrio. Hoje, a Espanha é a coragem do toureiro e não o touro. (...)



César Luis Menotti, no Record deste domingo. Há que saber apreciar devidamente aquela camisa aberta até ao umbigo; não fica bem a qualquer um.

Mr. Ocean

..., what we're trying to find out is: was there a reason you chose to commit this crime, or was there a reason you simply got caught this time.

- My wife left me. I was upset. I fell into a self-destructive pattern.

- If released, is it likely you'd fall back into a similar pattern?

- She already left me once. I don't think she'd do it again just for kicks.


(Ocean's Eleven, 2001)

"voltamos à análise científica de Rui Santos"

Estou manifestamente satisfeito. Ganhou a minha selecção à partida desta bodega - vá, fora a selecção cá da terra e mesmo com a não convocação de Guti. Para mais, ganhou contra a mais hedionda selecção deste euro. (Não, não me parece que alguém possa considerar a Polónia, a Áustria ou a Grécia como selecções.) Ganhou quem tinha nove jogadores de futebol em onze titulares - estou a descontar destas contas Capdevilla e Marchena, que são futebolistas competentes como podiam bem ser outra coisa qualquer com igual competência. Ganhou Aragonés, o velho, o ultrapassado. Racista, até, alguém disse depois do espirituoso episódio com Reyes. Ganhou um treinador espanhol à frente da selecção espanhola. E ainda deu para esmagar Hiddink e a sua aura de mágico por duas vezes. Ganhou um treinador que a meio do Euro se descobriu ter acordo milionário na Turquia para treinar o Fenerbahce - que se saiba, nenhum jogador espanhol morreu de desgosto por isso ou se desconcentrou fatalmente. É tudo muito bonito e tudo desmitifica os lugares comuns do costume. Ganhou a Espanha e perderam os clichés: de que a Espanha jamais passaria dos quartos ou mesmo da fase de grupos; de que Aragonés era um treinador obsoleto; de que é necessário um seleccionador estrangeiro com nome para pôr ordem numa selecção composta por bons jogadores; de que o anúncio por parte do Chelsea da contratação de Scolari tudo estragou; de que "onze para cada lado e no final ganha a Alemanha" - só a Lineker e a mais ninguém fica bem dizer isto. Tretas: é uma delícia ver tudo isto cair por terra. Há ainda um complexo português contra os espanhóis que me soa a idiota, provinciano, e julgava esbatido. Não, não está. Aqui não se torcia por Espanha por ser país vizinho ou amigo ou o raio que o parta; aqui torcia-se por Espanha por ter gente (muita) capaz de jogar bem (muito). Portugal teve uma oportunidade bestial de chegar à final, não era utopia alguma ou a usual megalomania: era um grupo de individualidades acima da média e um sorteio absurdamente feliz. Agora, evidente que até dói, Queirós. Caso não esteja para aturar Madaíl e/ou ame ser treinador de campo do United, que Aragonés faça moda, que venha um velho; que venha Manuel José, sim. (Se não gosta, caro leitor, de Manuel José, posso garantir que morria se lhe contasse qual a minha terceira opção.) Não se complique o que é básico. O futebol sempre teve muito mais de simples que de complexo; Aragonés sabia-o. Lema novo: onze para cada lado e no final ganham os anões do meio-campo espanhol. Xavi, Iniesta, Senna, o suplente Fabregas, Silva, que deleite; e lá para trás, Ramos, Puyol e Casillas; e lá para a frente, Villa e Torres. Neste último mês gostei muito de ler o Ferreira Fernandes n'O Jogo e o Menotti no Record quando os apanhava; e gosto sempre sempre da escrita sobre bola do Nuno Ribeiro, correspondente do Público em Espanha. La Cancha, é o nome da crónica semanal do NR. Vila Praia de Âncora é um sítio bem simpático, monotonamente bem simpático. Uma terra que me torna sarcástico. Li um conto do Saroyan que me derreou, preferia não o ter lido; agora peguei num livro da Lorrie Moore que muito adiei depois de ler o Pássaros da América. Está a dar o Ocean's Twelve na Rtp1. Tenho um prazer eterno em ver os filmes da série, acima de tudo por isto: aquela gente veste-se bem.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Vila Praia de Âncora

Photobucket

Sim, Diane Fleri.

young Wiston

"(...) Numa passagem muito citada da sua autobiografia, My Early Life, Churchill descreve o seu exame de Latim das provas de acesso a Harrow:

Escrevi o meu nome no cimo da página. Depois, escrevi o número da pergunta «I». Após muito reflectir, coloquei parênteses à volta do número «(I)». A partir daí, não consegui pensar em nada relacionado que pudesse ser relevante ou verdadeiro. Por acidente, apareceram na página uma mancha de tinta e alguns rabiscos, que contemplei tristemente durante duas horas, após as quais um piedoso contínuo veio buscar esta minha carapuça de bobo e levou-a ao reitor.
"


("Churchill", John Keegan, tinta-da-china)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

não é o mais genial dos geniais artigos que li hoje e ontem, enfim, mas dá para perceber que o cérebro do Ray Allen é o mais depurado dos três

"We've seen this act in sports before. A group of sterling individual talents thrust together on the same team, expectations raised to the rafters. A title? Slam dunk. On paper, they look unbeatable. The '99 Houston Rockets, for example, had Charles Barkley, Hakeem Olajuwon and Scottie Pippen. The New York Yankees--every year their lineup looks like a world beater. Too many times, these quick fixes fail; the inflated egos can't fit into the same arena. Those Rockets lost in the first round of the playoffs. The Yankees haven't won a World Series in seven years. So how do you explain the 2008 Boston Celtics? Last season, the Cs, one of the most celebrated sport franchises, winners of 16 titles, were the joke of the NBA. They finished 24-58 and at one point doormatted 18 straight games. During the off-season, Celtics GM Danny Ainge pulled off a pair of heists, bringing Kevin Garnett, the 6-ft. 11-in. (2.1 m) EX-MVP who is one of the most versatile players ever, and sweet-shooting guard Ray Allen to Boston. There they joined Paul Pierce, an automatic scorer and a six-time All-Star himself. Nice. But none of these guys have ever sniffed a championship. And they have only one ball to share.

Yet the Celtics are a stunning 40-9, the best in the NBA. When you sit down with Boston's cerebral Big Three, they'll tell you about ubuntu, the South African unity principle preached by coach Doc Rivers. But dig a little deeper and you'll discover less esoteric explanations behind Boston's success.

Like thank goodness these guys stank last year--or at least their teams did. "First and foremost, it only works when you have guys who have been on teams that have struggled," says Allen, whose Seattle SuperSonics finished in last place in their division. "The three of us have carried teams in the past, and the only thing we need to prove is that we want to win a championship." Garnett missed the playoffs in Minnesota; Pierce admits that basketball became a "drag."

Celtics fans: you're lucky they're not young whippersnappers, dingbats in their 20s seeking the stats for an insane contract. "When you are young, you are trying to secure yourself," says Pierce, 30. (Read: Just give me the damn ball.) "You look at us three--we've made millions of dollars. We've won tons of awards. So we look at each other and say, 'Hey, what's left to do?'" Allen is 32, Garnett 31--old enough to buy their own team yet young enough to still score at will.

We shouldn't totally dismiss that more mysterious component of team success: chemistry. Kicking back in the players' lounge at the team's Waltham, Mass., training facility, Allen, Garnett and Pierce are loose, introspective and quick to pounce. Garnett calls Allen stubborn, and Allen predicts that if Pierce doesn't shave his head, he'll grow George Jefferson hair. The trio's personal history helps. Garnett and Allen were Olympic teammates in 2000 and have known each other since their South Carolina schoolboy days; Garnett and Pierce played as teens for the same Amateur Athletic Union team.

It's easy to get them going about issues. Allen thinks the NBA's interminable 82-game regular season waters down the action. "I would cut the games back," he says. "You're going to see a level of intensity go up." In a sports world consumed with wiping out drugs, Garnett, who was chosen for the Feb. 17 All-Star game but has an abdominal strain, would offer a curious reform. "We're drug-tested too much," he says. "We're very funny about our routines. The policy is set up now where, on game day, they can come get you, take you. If you can't go, you'll sit there--they'll hound you."

I ask them about two recent books, both written by African-American journalists, that argue that today's black athletes have largely abdicated their social responsibility. There's no compelling need for it, says Pierce. "We don't have to deal with a lot of racism. It's not as open and as broad as it was back in the day. And that's why there's not as many of us who step in that position." Each of them has done noble charitable work, but Allen argues that a big paycheck doesn't equate with a platform. "You could have made money picking up roadkill," he says. "Now you have this big company where you've got people all over the world picking up roadkill. You've got $70 million in the bank. That doesn't make you knowledgeable about world hunger." Allen's inquisitive mind often wanders off to unexpected, some would say bizarre, areas.

Yes, their chemistry is refreshing. But will the buddy act last if one of the Big Three itches for more shots? Will Allen, Garnett and Pierce be able to exorcise their postseason demons? Will a no-name supporting cast sustain the Celtics?

"Just because you haven't heard of someone doesn't mean they're not effective," says Garnett of Boston's role players. "That's exactly how you get beat." Garnett surely knows enough about losing. With his two wingmen, he can finally talk tough on how to win big."

(da TIME)

(vídeo da entrevista aqui - destaque para a referência do Ray Allen ao "Do the Right Thing".)

Photobucket

terça-feira, 17 de junho de 2008

a causa foi modificada:

este sacana, num texto de 1500 caracteres, consegue falar do Rosado e da terra do meu pai *

Terça-feira, 17 de Junho de 2008

Ide ver aqui o MacGuffin tentando produzir inveja. Uma pessoa quando vive em povoações que apenas devido ao acaso e à imprudência da Reconquista têm hoje a oportunidade de torcer pelo Cristiano Ronaldo, pelo Petit, pelo Deco e pelo Bosingwa, aglomerados semi-urbanos que, além do mais, são um peso incomportável para o orçamento devido ao paradigma da solidariadade do litoral com o interior, vem por meio de um presunto e da banda larga do guterres semear um pecado mortal na população cosmopolita e educada. População essa, aliás, de cujo suor sairam não só a auto-estrada, como,sintomaticamente, a ligação de Casa Branca a Évora, porque, é a realidade, o comboio não passa por Évora, foi necessário fazer derivar um ramal por uns quilómetros a partir da linha principal para que o excelente Intercidades lá chegasse. Claro que contra o presunto eu poderia colocar aqui a lista das peixarias a menos de 500 metros da zona de rebentação que podemos encontrar desde Caminha a Vila Real de Santo António. Mas não vou por aí. Basta referir-me ao pão. Vidigueira? Torrão? Bons pães, não duvido; mas como mihares de outros. Depois do peixe e do Diogo Rosado, a maior riqueza de Portugal é o pão. Custa-me que a magnificência da panificação portuguesa seja tão pouco laureada. O pão de Pernes, conhecem? Não faz mal, é tão bom como o de Martim Longo ou de Beja ou, ou, ou, ou. Os portugueses parecem-me tão competentes a fazer pão que até o "Pão Alentejano" da Casa Xandite da Costa da Caparica consegue ser estupendamente aceitável. Sempre me fez espécie.


* Este é, para todo e qualquer efeito, o melhor post menor do ano.

gente que pensa bonito

prova a)

Avulsos

Estava na hora de Shyamalan começar a filmar argumentos de outros, tão pouco "Shyamalanescos" quanto possível. A ver se o seu talento deixa de estar sufocado pela beatice da sua "visão do mundo". Luís Miguel Oliveira, Ípsilon (a Propósito de O Acontecimento)
Infelizmente concordo. Sempre me opus às acusações de naïvité e beatice lançadas à obra de Shyamalan (no que Žižek e Bénard da Costa, cada um a seu jeito, expressamente me têm apoiado). Mas a triste verdade é que começo a ficar sem argumentos para o defender. O mais grave é que a continuar nesta senda Shyamalan está a "decidir" retroactivamente o modo como alguns dos seus filmes, de recepção liminar, ficarão para a posteridade. Ora, isto é algo que abala a minha autoridade nas memoriosas mesas de café deste país. O Sexto Sentido, O protegido e A Vila, filmes que reputo, teriam beneficiado em muito de uma morte prematura do seu autor (às mãos de ETs, por exemplo). Mas enfim, há ali inequívoca centelha de génio. É cedo para desistirmos. Acho eu.

prova b)

Obama

"Obama é uma doença infantil pateticamente alimentada pela "esperança messiânica" da esquerda europeia, ainda mais infantil uma vez que o homem pouco tem de esquerda." É esta a tese dos lúcidos de serviço que nos querem proteger das nossas ilusões. Nada mais paternalista. Eles já perceberam que apoiar Obama obriga à ingenuidade de julgar que a Realpolitik americana se vai dissolver no ar; à ingenuidade de acreditar que se vão afrontar os interesses económicos instalados nos Estados Unidos; à ingenuidade de presumir que acabará o apoio militar a Israel; à ingenuidade de ver a retirada do Iraque como o toque de midas que trará hamonia à colónia. Na verdade, ingénuo é quem assim reputa os outros porque capazes de algum entusiasmo.

O facto é que basta ouvir Obama falar de política internacional, da importância de saber dialogar com os inimigos (sim, como o Mário Soares), da importância do multilateralismo (leiam as declarações dele sobre o Irão), da importância de tirar a religião da política, da importância de se acabar com chantagem do patriotismo e da insegurança, etc. para se chegar à brilhante conclusão que depois de Bush não é preciso um messias para fazer toda a diferença. Sim, a eventual eleição de Obama carrega vastas esperanças após 8 anos indecorosos de política americana. So what?


daqui: avatares de um desejo

Diane Fleri

Photobucket

AMANTES AMANTES

Piores que as crueldades cometidas por inimigos
são as crueldades entre amantes.
Como resistir de cabeça erguida
ao invasor que a saqueia? Um inimigo
não chega tão fundo, arremete contra a superfície.


(Judith Herzberg, O que resta do dia, tradução de Ana Maria Carvalho, Cavalo de Ferro, 2008)

domingo, 15 de junho de 2008

feira do livro (2ª e 3ª levas)

"Rayuela", Julio Cortázar, Cavalo de Ferro, 19 euros;
+
"Uma introdução à vida de Churchill", Edições tinta-da-china (a barraca da feira mais deliciosa delas todas), 9,95 euros;
+
"Histórias de Amor", Robert Walser, Relógio D'Água, 14 euros;
+
"Contos de Kólima", Varlam Chalamov, Relógio D'Água, 2,5 euros;
+
"Noivado em S. Domingo", Heinrich von Kleist, Relógio D'Água, 1 euro (enganei sem querer a rapariga de sardas (linda de morrer); o livro era 2,5 euros; peço mais ou menos desculpa por isso);
+
"Israel e o Islão - As centelhas de Deus", Pietro Citati, Cotovia, não sei quanto que foi oferecido;

(Por lá ficou o novo Casares - ai, ai, ai -, aí setenta por cento do catálogo da tinta-da-china, e o livro do Ian Buruma sobre a a morte do Theo Van Gogh. A Cavalo de Ferro, abençoada, vai traduzir "A Fome" do Knut Hamsun.)

Adeus.

The Gulf of the Farallones, 2007

Photobucket

Photograph by Todd Hido

This haunting image fronted Steve Silberman's story exploring what might have happened to computing genius Jim Gray, who disappeared in his sailboat south of San Francisco. "Inside the High Tech Hunt for a Missing Silicon Valley Legend" follows the mystery step by labyrinthian step.

Olá.

sábado, 14 de junho de 2008

senti um arrepio na espinha

Jesus Shuttlesworth



Nome da sua personagem em "He Got Game", filme de Spike Lee de que não gosto assim muito. É o mais fino jogador dos Celtics. Estou fartinho de perder dinheiro com as três vitórias daquela gente de Massachusetts (ora aqui está uma palavra que nunca na vida conseguirei pronunciar decentemente). Não me macem agora mais a vida e ganhem um jogo em três possíveis.

(guardar bem guardadinha:

Se tivesse a tua equipa dava-te três de avanço e ganhava a acabar aos cinco. - boca de Jesus, o Jorge, a Schuster, o Bernd, aqui há uns tempos no fim do Teresa Herrera.

Foi a primeira frase descritiva deste blogue e eu cá tenho memória curta.
)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

há que gostar sem hesitação alguma deste homem

Photobucket

Mea culpa: esqueci-me estuporadamente do Senna no texto abaixo.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Guti

Sou como Valdano: percebo de bola. Sou como Valdano: comigo Guti tinha liberdade absoluta em campo. Vem isto a propósito da sua não convocação para este Euro que me parece criminosa. E eu tenho Aragonés em boa conta (não digo isto de muita gente). Não me levem a mal, eu percebo que meio mundo não entenda a não convocação de Raúl, eu percebo, palavra, mas também não o convocava por capricho. O que me choca mesmo é a não convocação do mais genial jogador espanhol aí da última dezena de anos. Jogador que como todos os da sua estirpe é votado volta não volta a um certo desprezo cativante. Tenho uma explicação para isso: creio que é por ser bonito em demasia e por ter um talento incomodativo - o tipo trata a bola com um carinho quase censurável. E pasme-se: fora Pirlo, Deco, Seedorf - que por vontade própria, e muito bem que eu fazia o mesmo, decidiu não se aborrecer com isto do Euro -, e toda aquela gente criada em Barcelona (Xavi, Iniesta e Fabregas - a linhagem de Guardiola, está claro), ninguém mais demonstra tamanha inteligência em campo que o rapaz nascido em Torrejón de Ardoz - que, calculo eu que não conheço a dita área ali ao pé de Madrid, deva ser um sítio bem agradável de ser estar. A Espanha calcou a Rússia do Hiddink num jogo que consegui perder por ter ido ver os juniores do meu clube com o Leixões. Aquilo, a selecção espanhola, tem um aspecto encantador, o melhor aspecto deste Euro - de longe. Fosse eu o Aragonés e pegava em Guti, Xavi, Iniesta e Fabregas e misturava-os bem misturados. Um meio-campo que tinha tudo para ser uma péssima ideia, mas um meio-campo delicioso no papel para um tipo hedónico como eu, e adiante, adiante, que isto nem discussão tem. "Decidam vocês em que sítio cada qual prefere jogar", dizia aos quatro antes referidos. "Caso não se entendam, não sei, peguem em papelinhos e tirem à sorte, não me aborreçam com minudências dessa ordem; ainda falta aqui um beque central (que não Marchena) e um beque esquerdo (que não Capdevilla) para ter à minha disposição onze tipos perto da perfeição; mas vocês entendem a minha tragédia?" Concluía eu depois com máximo acerto: "Corram pouco ou nada e troquem a bolinha como mais vos aprouver e de quando em vez - lembrem-se disto, vá lá - passem-na ao Torres ou ao Villa e corram eles que têm corpo para isso." Era o que lhes dizia. Sem tirar nem pôr. As conferências de imprensa do Scolari em Inglaterra, palpita-me, serão memoráveis. Portugal tem obrigação (leia-se: jogadores; leia-se: Ronaldo, Deco, Carvalho, Pepe e Bosingwa - a que Scolari pode juntar quando entender Quaresma e Nani) de chegar à final sem que tal seja tarefa hercúlea. Nenhum tipo da selecção alemã me abana qualquer nervo. O Murtosa em Stamford Bridge é giro de imaginar aussi. Isto tudo, claro, para escrever o que se segue: vi um livre do Diogo Rosado no outro dia, no tal jogo de juniores com o Leixões, deus meu, nem vos digo nem vos conto.

Continuing To Live

Continuing to live — that is, repeat
A habit formed to get necessaries —
Is nearly always losing, or going without.
It varies.

This loss of interest, hair, and enterprise —
Ah, if the game were poker, yes,
You might discard them, draw a full house!
But it’s chess.

And once you have walked the length of your mind, what
You command is clear as a lading-list.
Anything else must not, for you, be thought
To exist.

And what’s the profit? Only that, in time,
We half-identify the blind impress
All our behavings bear, may trace it home.
But to confess,

In that green evening when our death begins,
Just what it was, is hardly satisfying,
Since it applied only to one man once,
And that one dying.


(Philip Larkin)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

80's



4-1 para os Lakers, chama-se a isto gestão de expectativas, creio. Reparo agora nisto: os Lakers tinham tudo para ter a minha inestimável simpatia: sempre foram a equipa dos "talentos" - estou a pensar em Chamberlain, West, Magic, Baylor, Kareem, Shaq e Kobe -, e os Celtics sempre foram conotados com "trabalho" e "esforço" e "união nos momentos péssimos" e "mística" e todos esses lugares comuns que me enojam e me dão asco escrever. Ora deus nosso senhor sabe como abomino equipas dessa natureza, ora deus nosso senhor sabe como venero o "talento" - se preguiçoso e egoísta melhor ainda. Certo que Danny Ainge juntou Garnett - o mais competitivo bicho talentoso do universo - e Allen a Pierce, mas ainda assim Doc Rivers, o estafermo, fez daquilo uma "equipa"; e do outro lado está o génio infinito de Kobe. Que seja uma excepção, nada mais, esta minha afinidade pelos Celtics. (Ando muito apaixonado por todos os vídeos do Dan Quayle que encontro no YouTube.)

60's



Auerbach: "Russ, go into the man's room and throw up."

quarta-feira, 4 de junho de 2008

problemas danados

Photobucket

Consta - há quem esteja sempre disposto a lembrar-nos disso com um contentamento desmedido - que Barack Obama tem problemas, sérios, uma imensidão deles: o discurso ora é ambíguo ora é vazio, ora populista ora elitista (decidam-se); é o pastor mentecapto que não se cala por nada deste mundo; é a inexperiência do senador do Illinois que pode conduzir o país às maiores tragédias; é o eleitorado de Hillary que Obama não consegue conquistar, etc.. O primeiro argumento é de uso fácil e aplicável a qualquer candidato se a má vontade imperar; o segundo estará em vias de ser esquecido de vez por cansaço e/ou irrelevância da personagem pastor; o terceiro cai por terra se pensarmos que a experiência política de Bush, Cheney e companhia era inegável e resultou em zero - a "experiência" por si só nunca valerá de nada se os primeiros juízos forem errados; e o quarto tenderá a ser diminuído com a escolha do vice de Obama, seja a própria Hillary Clinton (não creio, não creio) ou Kathleen Sebelius ou outra pessoa qualquer - tenderá a ser diminuído e não erradicado pois falamos de eleitorado que tradicionalmente vota e votará em larga maioria nos republicanos, coloque Obama a vice quem colocar. Mas - e estive aqui uns bons minutos entretido a pensar com todo o meu génio sobre o assunto - parece-me que Hillary Clinton ainda tem mais problemas. A começar nisto: não conseguiu a nomeação do seu próprio partido. A acabar nisto: Obama conseguiu. É capaz de ser um problemaço danado para ela. McCain? Terá um adversário real a partir de hoje e isso dar-lhe-á a sua própria imensidão de problemas (a juntar à colagem com Bush que McCain tentará evitar como bem puder e os democratas deverão salientar frase sim frase sim até à exaustão). Mais: sem adversário concreto que vantagens conseguiu McCain desde a sua nomeação até hoje? As sondagens dizem que poucas ou nenhumas. Bottom line: problemas todos têm: Hillary seguramente mais que Obama; McCain na mesma proporção de Obama (pelo menos). Barack Obama passou na visão de muito boa gente de simpático e agradável candidato que iria aborrecer a vida de Hillary Cinton nas primárias democratas, a candidato utópico, frívolo, que, vejam lá bem, agora é forte candidato a ganhar a presidência dos EUA. A campanha de Obama é, suceda o que suceder em Novembro, notável e nunca menos que notável - há um ano, caramba, mesmo há meia-dúzia de meses, Hillary emergia como candidata óbvia do partido, e esta seria a sua hora. A senadora de NY como candidata democrata não era só forte probabilidade, era inevitabilidade. Que ninguém seja pateta e menospreze o caminho até aqui feito por Barack Obama - será sempre perigoso. O espectáculo, o verdadeiro, o tal "maior espectáculo do mundo" começa agora.

* não resisti: imagem roubadíssima ao blogue do Andrew Sullivan.
** são 01h03 e faltam cinco delegados para Obama garantir a nomeação.

Arquivo do blogue

«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.