quarta-feira, 4 de junho de 2008
problemas danados
Consta - há quem esteja sempre disposto a lembrar-nos disso com um contentamento desmedido - que Barack Obama tem problemas, sérios, uma imensidão deles: o discurso ora é ambíguo ora é vazio, ora populista ora elitista (decidam-se); é o pastor mentecapto que não se cala por nada deste mundo; é a inexperiência do senador do Illinois que pode conduzir o país às maiores tragédias; é o eleitorado de Hillary que Obama não consegue conquistar, etc.. O primeiro argumento é de uso fácil e aplicável a qualquer candidato se a má vontade imperar; o segundo estará em vias de ser esquecido de vez por cansaço e/ou irrelevância da personagem pastor; o terceiro cai por terra se pensarmos que a experiência política de Bush, Cheney e companhia era inegável e resultou em zero - a "experiência" por si só nunca valerá de nada se os primeiros juízos forem errados; e o quarto tenderá a ser diminuído com a escolha do vice de Obama, seja a própria Hillary Clinton (não creio, não creio) ou Kathleen Sebelius ou outra pessoa qualquer - tenderá a ser diminuído e não erradicado pois falamos de eleitorado que tradicionalmente vota e votará em larga maioria nos republicanos, coloque Obama a vice quem colocar. Mas - e estive aqui uns bons minutos entretido a pensar com todo o meu génio sobre o assunto - parece-me que Hillary Clinton ainda tem mais problemas. A começar nisto: não conseguiu a nomeação do seu próprio partido. A acabar nisto: Obama conseguiu. É capaz de ser um problemaço danado para ela. McCain? Terá um adversário real a partir de hoje e isso dar-lhe-á a sua própria imensidão de problemas (a juntar à colagem com Bush que McCain tentará evitar como bem puder e os democratas deverão salientar frase sim frase sim até à exaustão). Mais: sem adversário concreto que vantagens conseguiu McCain desde a sua nomeação até hoje? As sondagens dizem que poucas ou nenhumas. Bottom line: problemas todos têm: Hillary seguramente mais que Obama; McCain na mesma proporção de Obama (pelo menos). Barack Obama passou na visão de muito boa gente de simpático e agradável candidato que iria aborrecer a vida de Hillary Cinton nas primárias democratas, a candidato utópico, frívolo, que, vejam lá bem, agora é forte candidato a ganhar a presidência dos EUA. A campanha de Obama é, suceda o que suceder em Novembro, notável e nunca menos que notável - há um ano, caramba, mesmo há meia-dúzia de meses, Hillary emergia como candidata óbvia do partido, e esta seria a sua hora. A senadora de NY como candidata democrata não era só forte probabilidade, era inevitabilidade. Que ninguém seja pateta e menospreze o caminho até aqui feito por Barack Obama - será sempre perigoso. O espectáculo, o verdadeiro, o tal "maior espectáculo do mundo" começa agora.
* não resisti: imagem roubadíssima ao blogue do Andrew Sullivan.
** são 01h03 e faltam cinco delegados para Obama garantir a nomeação.
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