sábado, 27 de dezembro de 2008

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Dilúvio de tempo.

2008, livros

Yates, Yates, Yates. O meu escritor e descoberta do ano começa e acaba aqui. Eleven Kinds of Loneliness, A Good School, A Special Providence (foi esta a ordem). Richard Yates, o perfeito modelo do trágico fracasso da Justiça; faz-me penar. Com tradução portuguesa este ano: Fome (Hamsun) e nada mais - não sei se Sapho (Daudet) tem edição de 2007 ou 2008. Esqueça-se (para meu único benefício) as traduções de 2008. Albas (Sebastião Alba) e O Ar da Manhã (António Gancho); os contos do Hemingway; Founding Brothers: The Revolutionary Generation (Joseph J. Ellis) e The Fall of Yugoslavia (Misha Glenny); uma introdução à vida de Churchill, do John Keegan, da tinta-da-china. O Törless do Musil, clarinho, e os dois do Bolaño que já tinha por casa (Estrela Distante, Nocturno Chileno). Li que me fartei até Agosto/Setembro; vi-me estupidificado e de cérebro cansado depois disso. Os livros que não foi possível ler: Os Detectives Selvagens (Bolaño), Rayuela (Cortázar) e Histórias de Amor (Walser).

cinema, ainda

Fartei-me de ver um camião de filmes excelentes pela Cinemateca ou por casa (DVD, boa parte edições espanholas). Os que lembro sem esforço e com auxílio de um bloco de notas:

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Man Hunt e Hangmen Also Die! (Lang); Fallen Angel, Whirpool e The Man with the Golden Arm (Preminger); Cry of the City e Criss Cross (Siodmak); Panic in the Streets e Wild River (Kazan); Fixed Bayonets! e Verboten! (Fuller); Mr. Arkadin (Welles); Muerte de un ciclista (Bardem); The Quiet American (Mankiewicz); The Long Gray Line e The Last Hurrah (Ford); Wind Across the Everglades e Party Girl (Nick Ray); The Spy Who Came in from the Cold (Ritt); The Red and the White (Jancsó); Folhas caídas e Adieu, plancher des vaches! (Iosseliani); Two-Lane Blacktop (Hellman); Fat City (Huston); Thunderbolt and Lightfoot (Cimino); Damnation/Perdição e O Homem de Londres (Tarr); O Apóstolo (Duvall); Mischka (Stévenin); Ne touchez pas la hache (Rivette); etc., etc., etc.. Uma desilusão: Zabriskie Point (Antonioni).

2008, filmes

Com estreia comercial cá na terra, ordem alfabética:

Alexandra, de Aleksandr Sokurov
Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes
Corações, de Alain Resnais
Darjeeling Limited, de Wes Anderson
Este País Não é Para Velhos, de Ethan e Joel Coen
A Fronteira do Amanhecer, de Philippe Garrel
Nós Controlamos a Noite, de James Gray
Quatro Noites com Anna, de Jerzy Skolimowski
O Voo do Balão Vermelho, de Hou Hsiao-hsien
WALL-E, de Andrew Stanton


ADENDAS:

* se quiserem, mais coisa menos coisa: Darjeeling como favorito; num segundo patamar: Coen, Gray, Resnais e Garrel; num terceiro: Skolimowski, Sokurov, Gomes e Hsiao-hsien; e WALL-E.

* podia caber: Destruir Depois de Ler, de Joel e Ethan Coen.

* não tenho a certeza: Fome, de Steve McQueen (sim, apesar daquela prodigiosa conversa de um quarto de hora entre o padre qualquer coisa e o qualquer coisa Sands); Haverá Sangue, de Paul Thomas Anderson.

* não vi e gostava: Caos Calmo, de Antonio Luigi Grimaldi; Mal Nascida, de João Canijo; A Rapariga Cortada em Dois, de Claude Chabrol; Solidão, de Jaime Rosales; A Turma, de Laurent Cantet.

* estou a contar que Os Três Macacos, filme de Nuri Bilge Ceylan (um turco com duas obras anteriores bestiais), não me vá derreter de encantamento. Não faço listas de piores e, em geral, não me lembro deles. O do Shyamalan, recordo-me, soou-me a decepção. Eu e os Dardenne temos um sério e seguido problema.

* fora os Eastwood que aí vêm, quero muito ver Two Lovers em 2009.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

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Bruce Gilden. USA. New York City. 1968. Santa drinking.


(Desconfio que me limparam o cérebro a jacto de areia desde que me enfiei no Colombo ontem à tarde. Já gostei tanto do Natal.)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"Se tivéssemos que imaginar um hipotético e ideal cinema europeu, Confidential Report seria o representante paradigmático. Produzido com dinheiro espanhol e francês, rodado entre Madrid, Munique e Paris, o filme é, acima de tudo, uma metáfora sobre a Europa à procura da sua identidade, tal como Arkadin, que contrata um detective para reconstituir a sua vida. Uma Europa em pedaços, federada pelo esperanto cinema, impura e destruída. Welles foi filmar as ruínas de Rossellini com a visão deformada e grotesca da série B americana. Daí provém a impressão de bizarria total que acaba por relegar para segundo plano quer a sofisticação do filme de autor quer a trivialidade do filme de género. Welles recusa, neste filme, a ideia da forma nobre e o modelo que segue é o do folhetim: desaparições, assassinatos, estranhas mansões, conspiração internacional. Em Confidential Report, estamos mais perto de Mabuse do que de Citizen Kane".

Nicolas Saada
Cahiers du Cinéma, Dezembro de 1991

(d'As Folhas da Cinemateca sobre Welles)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

2008, discos

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American Music Club, The Golden Age
Bonnie 'Prince' Billy, Lie Down In The Light
Deerhunter, Microcastle
Dennis Wilson, Pacific Ocean Blue
Fennesz, Black Sea
Robert Forster, The Evangelist
Silver Jews, Lookout Mountain, Lookout Sea
Toumani Diabaté, The Mande Variations
Vampire Weekend, Vampire Weekend
Why?, Alopecia


(Convencional q.b.: tudo ou quase tudo gente cá da casa. Os favoritos dos favoritos a negro, ordem albética. De fora destes dez por pura inconstância minha: Walkmen, Department of Eagles, Mount Eerie..., Fleet Foxes, uma canção dos Spiritualized e duas ou três dos Tindersticks. Não ouvi uma porrada de coisas: exemplo maior: Portishead. A Lykke Li é bonita, caricaturalmente parecida com uma anterior namorada. Há sempre um 'disco esquecido' - logo o descubro. Palpita-me que a minha lista de cinema é a uns bons 80 por cento igual à do Luís.)

esse pouco

"Vejo-o como uma história sobre a possibilidade de pararmos. Aquele pouco que se pode mudar na vida não se muda por um processo racional; muda-se porque acontecem coisas, muito dolorosas ou muito belas. E essas, às vezes, são ocasiões para se mudar um pouco, esse pouco que podemos mudar."


(Nanni Moretti, no Ípsilon de hoje, à conversa com Alexandra Prado Coelho sobre 'Caos Calmo'; dedicado ao M. à boleia de uma conversa antiga.)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

40 euros custa o livro do Fisk

(...)"Não usem a Internet, não vejam 'websites'. Tenham sempre livros de história e leiam, leiam, leiam", aconselha, para que os profissionais da comunicação social saibam "o que vai acontecer".

Em 1917 - disse - "o general que liderou as forças britânicas (contra o Iraque) emitiu uma nota, que foi afixada nas ruas de Bagdad, e na qual se lia: "Vimos aqui não como conquistadores mas como libertadores, para vos libertar de gerações de tirania". (...)



* Robert Fisk, hoje, na apresentação da versão portuguesa de "A Grande Guerra pela Civilização", 1232 páginas.

* sintam-se confortáveis em me oferecer o livro-testamento do Fisk no Natal - bem como o pack do Zurlini. Li com danada atenção a entrevista dada à Margarida Santos Lopes no último Ípsilon. Absorvi duas ou três coisas: um elogio ao ex-Presidente iraniano Khatami; a indiferença para com Bin Laden; e uma resposta à pergunta "É feliz?".

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

serão com Greene

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Joseph Mankiewicz, 58

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Carol Reed, 59

domingo, 30 de novembro de 2008

sábado, 29 de novembro de 2008

Ron Haviv

'Blood and Honey: A Balkan War Journal'

(de um documentário que apanho pela segunda vez esta semana na sic notícias)

(na amazon.co.uk, preço mais barato, livro usado: £92.27)

terça-feira, 25 de novembro de 2008



segunda-feira, 24 de novembro de 2008

OBEY

Ando amortalhado e com uma paixão por esta marca capaz da ruína. Nomeadamente por toda esta secção da dita. Quem me descobrir a marca por Lisboa tem o meu eterno apreço. Chegámos àquele ponto raro do ano em que me torno 'fashion addicted' (a expressão não é, de todo, minha). Necessidade arrogante de roupa nova. Peço que acreditem, não sou sempre assim: ando negligente, descuidado, com um penteado desumano e "magro como um cão" (© mi madre). Possuo um talento incorruptível para me tornar numa calamidade. O sítio onde trabalho anda em guerra civil. Eu no meio. Em igual dia fui adjectivado de 'certinho' (expressão que me humilha) e 'irascível' (expressão que me cativa). O mundo das hipóteses é amplo e pavoroso. O perfume de uma colega paralisa-me; o sorriso de outra dá-me um tremor quente de prazer no queixo. Um dos meus 'chefes' tem um livro publicado; mandou-mo ler; está esgotado em todo o santo lado. Morro de chatice com 'smileys', seja em mensagem de telemóvel ou mail, dão-me vontade de beber uma garrafa de Becherovka numa vintena de tragos. No fim-de-semana queria/devia ter escrito algo e não o fiz. Passei a tarde e a noite de domingo de falso começo em falso começo. O mestrado corre mal. Mentira: nem bem nem mal, não corre. Resquícios de uma juventude descuidada, cedo derrotado por estupidez e preguiça. Como já dei a entender, sou distraído: descobri ontem, dia 23 de Novembro de 2008, que a Natalie Portman é bela. Mais simples a vejo, mais bela me parece. As t-shirts da Insight também são uma pequena delícia. Escutai, pela vossa saúde, o 'Microcastle' dos Deerhunter. Vejam, assim possam, o 'The Long Gray Line' e o 'The Last Hurrah' do Ford. E Richard Yates, leiam-no, seja o que for, é bonito. Era isto: OBEY, Insight, Portman, Ford, Deerhunter e Yates. Assuntos mui prementes, está visto. (Este post foi, quase por inteiro, patrocinado pela rede sem fios (da) 'bolota'.)

sábado, 22 de novembro de 2008

cá a 04 de Dezembro



*quer-me parecer que é a melhor música do álbum. Mas pode bem ser a 'In the New Year' ou a 'Postcards from Tiny Islands' ou a 'I lost you' ou ou ou. Disco de fantasmas, rico disco. Perdi-lhes o rasto depois de 'Everyone Who Pretended to Like Me Is Gone' e 'Bows and Arrows'. Um dia antes desta gente, Jack Rose + Norberto Lobo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

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'Track of the Cat', 54, William A. Wellman

'Land of Mordor'

By the beginning of 1991, Serbia had become known as the 'Land of Mordor' among foreign journalists in Yugoslavia, thus honouring J. R. R. Tolkien's dark vision of a fallen kingdom. Elections in December 1990 had conferred a dubious democratic legitimacy on the presidency of Slobodan Milosevic. His victory at the polls had deepened fears among Serbia's fragile liberal establishment that this 'Emperor of the Night' would now go on to fulfil the bleakest of the prophecies which had multiplied since September 1987, the month in which Milosevic carried out a political assassination on his erstwhile mentor, Ivan Stambolic, thereby assuming the leadership of the Serbian Communist Party.
The drive towards war in Yugoslavia could not have been as dynamic as it was had it not been for the extraordinary personality of Slobodan Milosevic, the most paradoxical of dictators. He is a man without passion, without any real nationalist motivation (althought on the surface, he appears to wallow in it), and he is man who has never shown any affection on regard for the masses upon whom he depends for support. Yet he is without doubt the single most influential post-war politician in Yugoslavia after Tito. Indeed there is a strong, rather depressing case for suggesting that Milosevic may leave a deeper impression on history than Tito. Whereas the Partizan leader succeeded in ending the mass slaughter of Croats and Serbs born of the complex conflict which developed among the ruins of monarchist Yugoslavia during the Second World War, Milosevic has invoked those spirits of violence and unleashed them to turn the sleepy backwater which the post-war Balkans had become into the pathologically unstable region that it was for the first half of the twentieth century.



('The Fall of Yugoslavia', Misha Glenny, Penguin Books, às páginas tantas)

sábado, 15 de novembro de 2008

(...) With Russian tanks only 30 miles from Tbilisi on August 12, Mr Sarkozy told Mr Putin that the world would not accept the overthrow of Georgia’s Government. According to Mr Levitte, the Russian seemed unconcerned by international reaction. “I am going to hang Saakashvili by the balls,” Mr Putin declared.

With Russian tanks only 30 miles from Tbilisi on August 12, Mr Sarkozy told Mr Putin that the world would not accept the overthrow of Georgia’s Government. According to Mr Levitte, the Russian seemed unconcerned by international reaction. “I am going to hang Saakashvili by the balls,” Mr Putin declared.

Mr Sarkozy, using the familiar tu, tried to reason with him: “Yes but do you want to end up like [President] Bush?” Mr Putin was briefly lost for words, then said: “Ah — you have scored a point there.”
(...)

(The Times)

domingo, 9 de novembro de 2008

Alessandro Del Piero (Conegliano, 9 novembre 1974)

21 Outubro:


05 Novembro:




09 Novembro (hoje):


(E a delícia que tem sido o Barça do Guardiola?)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

'Inglourious Basterds' ou um admirável pretexto para uma foto da Mélanie Laurent

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Brad Pitt - Lt. Aldo Raine

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Mélanie Laurent - Shosanna Dreyfus

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

No calor da noite, esqueci-me de saudar os bloggers portugueses que acolheram a designação de Sarah Palin para candidata a VP como uma escolha «brilhante» de John McCain. É esta argúcia que lhes tem valido darem hoje opinião em tudo quanto é jornal, estação de rádio ou canal de televisão portugueses. É o chamado «circo mediático». Embora eu não esteja certo de que esta expressão contenha alguma metáfora.

(ex-Ivan Nunes, via Margens de erro)
O discurso de concessão de John McCain é de uma elegância extrema. Queria sublinhar bem isto: aquilo é de uma elegância indecente, que merece ser visto e revisto até ao enjoo extremo. Aquele é o McCain que dificilmente não se pode estimar. Por onde andou escondido em todo o raio da campanha é que me escapa. A campanha de McCain enquanto candidato nomeado do partido republicano foi horrenda, penosa, sempre algures entre o errante, o tacticismo imbecil e a irresponsabilidade indefensável (Sarah Palin) - e tudo isto me parece impossível de esquecer. Pasmou-me a conivência de McCain nos mais patéticos ataques de carácter a Obama, quando McCain, ele mesmo, foi 'comido' de igual forma indigna por W. Bush nas primárias republicanas de 2000.

Mas retorno ao discurso final de McCain: é o ponto alto do que veio do campo GOP em todos estes meses infindáveis - a par com os vídeos narrados pelo Robert Duvall na convenção republicana, a que nunca fiz referência. (Isto dirá o que foi a campanha republicana.) E por um digníssimo discurso final obrigo-me a acabar o livro do David Foster Wallace que ficou a meio caminho.
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'The Candidate', 1972

terça-feira, 4 de novembro de 2008

'How to Read Like a President '

(...) The current nominees for president also offer revealing choices when asked which books have been most important to them. John McCain has long spoken of his affection for, and identification with, Robert Jordan, the protagonist of Ernest Hemingway’s “For Whom the Bell Tolls.” After I interviewed McCain this past summer — a conversation in which we discussed Jordan at some length — I reread the conclusion of the novel. The lingering image of the final scene is not one of death but of Jordan, the college professor who has come to Spain to fight the fascists, wounded yet still alive, taking aim at the enemy, his heart still beating against the forest floor. Hemingway does not kill Jordan but leaves him there, engaged to the end in the battles of his time.

McCain sees himself in the same way: as a warrior who never gives in, and never gives up, no matter how hopeless the cause. “Oh, I reread it all the time,” McCain told me. “Robert Jordan is what I always thought a man ought to be.” Jordan’s essential creed is encapsulated in a sentence that gave McCain the title of one of the books he has written with his aide Mark Salter: “The world is a fine place and worth the fighting for and I hate very much to leave it.” It’s not hard to see how the line would resonate with a romantic fatalist like McCain.

In captivity, McCain used to act out scenes from books and movies to keep his mind sharp. In addition to Hemingway, he loves the stories of W. Somerset Maugham, “The Great Gatsby,” “All Quiet on the Western Front” and James Fenimore Cooper’s Leatherstocking Tales, especially “The Last of the Mohicans” (he remembers the N. C. Wyeth illustrations). He likes William Faulkner in, as he told me, “small doses,” especially “The Bear” and “Turnabout.” McCain speaks of nonfiction less often but told me he has read — twice — Gibbon’s “Decline and Fall of the Roman Empire.”

Most interesting, though, was McCain’s reaction when I suggested that his father, a career naval officer who rose to be commander in chief of the Pacific forces during the Vietnam War, was rather like Victor (Pug) Henry, the hero of Herman Wouk’s “Winds of War” and “War and Remembrance.” Exactly, McCain said: his father was exactly like Pug Henry. Later, I reread the last pages of “The Winds of War.” In them, Henry watches his son set sail from Pearl Harbor aboard the U.S.S. Enterprise: “He could almost picture God the Father looking down with sad wonder at this mischief. In a world so rich and lovely, could his children find nothing better to do than to dig iron from the ground and work it into vast grotesque engines for blowing each other up? Yet this madness was the way of the world.”

McCain and Obama are so different in so many ways, but they do share one thing: a kind of tragic sensibility. Judging from the books they cite as most important, they embrace hope but recognize the reality that life is unlikely to conform to our wishes. They mention Shakespeare’s tragedies, “For Whom the Bell Tolls” and David Halberstam’s “Best and the Brightest.” Like Robert Jordan, they want to make things better and are willing to put themselves in the arena, but they know that nothing is perfectible and that progress is provisional. Things fall apart; plans fail; planes are shot out of the sky. Their attraction to Hemingway suggests a willingness to acknowledge unpleasant facts not always found in those who enter elective politics.

When I asked him by e-mail to send a list of books and writers that were most significant to him, Obama offered American standards: The Federalist, Jefferson, Emerson, Lincoln, Twain, W. E. B. Du Bois’s “Souls of Black Folk,” King’s “Letter From Birmingham Jail,” James Baldwin, and Toni Morrison’s “Song of Solomon.” Among writers from abroad, he singles out Graham Greene (“The Power and the Glory” and “The Quiet American”), Doris Lessing (“The Golden Notebook”), Aleksandr Solzhenitsyn’s “Cancer Ward” and Gandhi’s auto­biography. In theology and philosophy Obama mentioned Nietzsche, Niebuhr and Tillich — writers consistent with his acknowledgment that while life is bleak, it is not hopeless.

Obama, unsurprisingly, appears to be more drawn to stories sympathetic to the working classes than is McCain. Obama cites John Steinbeck’s “In Dubious Battle,” about a labor dispute; Robert Caro’s “Power Broker,” about Robert Moses; and Studs Terkel’s “Working.” But he also includes Adam Smith’s “Wealth of Nations” and “Theory of Moral Sentiments” on his list.

Both candidates are fond of Robert Penn Warren’s “All the King’s Men,” a novel about a corrupt Southern governor modeled on Huey Long, though he is also a kind of Jacksonian figure. The last line of the novel reads, “Soon now we shall go out of the house and go into the convulsion of the world, out of history into history and the awful responsibility of Time.” Either John McCain or Barack Obama is about to make that same journey. “I was born for the storm,” Andrew Jackson once said, “and a calm does not suit me.” Born for it or not, the 44th president, whoever he is, is in for rough weather.


Jon Meacham, no NYTimes

domingo, 2 de novembro de 2008

três dias

1946


22 de Fevereiro.

Recomeçaste a passar a noite sozinho, no pequeno cinema, sentado a um canto, fumando, saboreando a vida e o fim do dia. Olhas o filme como um garoto - pela aventura, pela pequena emoção estética ou mnemónica. E gozas, gozas imensamente. Será assim aos setenta anos, se lá chegares.


23 de Fevereiro.

Algo acaba. Dás por isso porque, quando te abandonas e te sentas para fumar, ficas inquieto e ansioso. Será que receias a vida prática? Não. Receias o teu vazio.

Esta cidade não tem recordações.


24 de Fevereiro.

Novamente só. A tua casa agora é o escritório, um cinema, dois maxilares cerrados.
Na história de uma paixão, o fim deveria ser marcado pela necessidade de voltar a casa, de isolamento.


(Pavese, O Ofício de Viver , Relógio d’Água, pág. 299)

sábado, 1 de novembro de 2008

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

domingo, 26 de outubro de 2008

escapou-me o 'U Omãi Qe Dava Pulus' aí pela terceira ou quarta vez, mas vi ontem o Jonathan Rosenbaum ao vivo
:

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...e mantenho-me muito muito muito crente:



(...)

domingo 28 de diciembre de 2008
Salida: 1:25 / Madrid , Barajas , Terminal 4S
Llegada: 10:40 / Buenos Aires , Pistarini , Terminal A
Duración: 12h: 15m 346
Sin paradas
Tarifa más económica
Total 1.148,31 €

(...)

A minha cabeça está inundada de ideias disparatadas. Esta, passear-me por Buenos Aires e mais um outro sítio argentino à procura de uma rapariga belga, é a maior e mais forte delas todas. Mas que tontice de preço; gela-me até aos ossos.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

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'I Confess', Hitchcok, 1953
'Léon Morin, prêtre', Melville, 1961

escritos bonitos (ainda sobre as eleições dos EUA)
:

* na Newsweek, 'It’s Not Easy Bein’ Blue - America remains a center-right nation', Jon Meacham;

* no mesmo sítio, Fareed Zakaria;

* 'Barack Obama: Why I believe he should be the next President', Boris Johnson no Telegraph;

* no mesmo sítio, 'Boris Johnson’s silly endorsement of Barack Obama', por Toby Harnden;

* sobre David Axelrod, o estratega mor da campanha de Barack Obama: artigo da Maria João Guimarães no Público de sábado passado; este no NYT de Abril de 2007 - 'Obama’s Narrator'; e só mais este na The New Republic - 'The Message Keeper';

* 'How John McCain came to pick Sarah Palin', Jane Mayer na The New Yorker, 22.574 caracteres (sem espaços);

* 'Speak Up! - Stop covering Palin until she gives a press conference', Christopher Hitchens na Slate;

* 'This summer, the photographer Platon took pictures of hundreds of men and women who volunteered to serve in the military and were sent to Iraq or Afghanistan. (...)'

'transumância'



Boa noite. Tenho uma montanha de coisas em que pensar (e fazer) e o colega J, unilateralmente, deu o meu nome para o curso livre de língua e cultura sérvia (é gratuito). Tenho outro colega que consegue utilizar a palavra 'transumância' frase sim frase não - o que a meia-dúzia de níveis me parece notável; e outra colega que vem equipada com uma falta de ironia à prova do mais rigoroso teste de resistência. O amigo B comprou-me, julgo, bilhete para o 'Maradona by Kusturica'. Eu queria mesmo era ver amanhã o 'U Omãi Qe Dava Pulus'. Comprei finalmente o 'Fome' do Hamsun. O primeiro parágrafo:

Um homem jovem chega a uma cidade. Não tem nome, casa ou trabalho; ele veio para a cidade para escrever. Ele escreve. Ou, mais precisamente, ele não escreve. Ele passa fome até estar quase morto. *

Seduz como tudo. Voltei a escutar Micah P. Hinson devotamente - foi a Leuven, Bélgica, ouvi dizer. A Criterion, li aqui, vai editar três filmes do Pedro Costa no início de 2009. Chove. Doviđenja.


* nota, sábado, 22 de Novembro 2008: 'seduz como tudo' mas não é do Hamsun, é o prefácio. Do Paul Auster. Repare-se como consigo ser pateta, impulsivo e distraído em doses parecidas.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Ara Güler

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(Kazım Koyuncu & Sevval Sam - 'Ben Seni Sevdugumu')

As fotografias de Ara Güler salpicam 'Istambul - Memórias de Uma Cidade', de Orhan Pamuk - o livro que por estes dias me entretém espaçadamente. "(...) constituem a melhor memória da vida e das paisagens de Istambul desde 1950", copio algures do livro. A música é resgatada de 'Do Outro Lado', filme de Fatih Akin que me soa a milagre depois do histérico 'A Esposa Turca'. Saio da sala com a impressão que Akin soube bem medir um passo em frente: 'Do Outro Lado' é muitíssimo mais equilibrado e compassado (e mais dois ou três lugares comuns de igual natureza) que o anterior trabalho. Soube-me bem rever Istambul; soube-me ainda melhor identificar Lars Rudolph do nada. Ainda me ponho a aprender turco ("O curso é gratuito"). Ou isso ou sérvio ("O curso é gratuito").

Christopher Hitchens

Vote for Obama. McCain lacks the character and temperament to be president. And Palin is simply a disgrace.
(na Slate)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Guillaume (1971-2008)

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Ne touchez pas la hache, de Jacques Rivette, 2007

Gestos

(...) Essa frase aparece no livro: "De quem nasci eu?"

Agora vejo que sim. Tenho coisas do meu pai, da minha mãe. Não havia nenhuma tradição ligada a livros. O meu pai gostava muito de ler, a minha mãe também, mas o meu avô nunca o vi pegar num livro. De onde é que isto vem? E sentia-me diferente. Será que eu pertenço a esta família? Vejo os meus irmãos tornarem-se cada vez mais parecidos com o meu pai; provavelmente eu também. Não sei se já lhe aconteceu: da nossa boca saem frases que não são nossas. São da pessoa com quem vivemos, muitas vezes. Certos tiques de vocabulário que não nos pertencem que o convívio traz. Gestos. E saem-me frases que são do meu pai; certas maneiras de articular, pausas.

(António Lobo Antunes, entrevista de Anabela Mota Ribeiro, "Pública" de ontem)

sábado, 11 de outubro de 2008

estação

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(fotos: Miguel B.)

(mais fotos da estação: podgorica station, lesleyjaneblack)

nunca li nada nadinha do Le Clézio e o tipo lê e cita Dagerman

Luis Miguel Pascual

París, 9 oct (EFE).- (...) Habló poco de su obra y de sus influjos, aseguró que busca "una cierta ingenuidad y frescura" cuando escribe y reveló con seguridad sus fuentes de inspiración: "una mezcla de mis recuerdos de infancia, de mi vida de adulto y de lo que constato en cada instante. Mis fuentes están en la realidad".

Cuando esta mañana sonó su teléfono, Le Clézio estaba leyendo "La dictature du chagrin", de Stig Dagerman, y aprovechó la ventana que le abrió el premio para recomendar la lectura de novelas como antídoto para los problemas que atraviesa la sociedad, desde la crisis económica a "la tendencia excesiva a destacar el peligro que representan los extranjeros".

"Leer novelas es una buena forma de interrogar al mundo actual sin que el resultado sean respuestas demasiado esquemáticas. El novelista no es un filósofo, no es un técnico de la lengua, es alguien que hace preguntas y si hay un mensaje que quiero enviar es que hay que hacerse preguntas", señaló el autor.

Recibió la noticia del premio con naturalidad y no cree que el prestigio del galardón cambie su vida. "Estoy escribiendo un libro y no me voy a parar por esto. Creo que ahora todo va a ser más sencillo. La Academia me ha regalado tiempo", dijo el literato nacido hace 68 años en Niza, en el seno de una familia de exiliados de las Islas Mauricio, una ex colonia francesa que siente como su patria.

Le Clézio no ha hecho otra cosa en su vida que escribir y viajar. Con siete años completó dos obras en el barco que le llevaba rumbo a Nigeria, donde su padre, médico de origen británico, había sido destinado durante la Segunda Guerra Mundial.

Con 23 recibió el premio Renaudot por "Le procès verbal" y con 40 la Academia Francesa galardonaba su novela "Désert" como la mejor del año. En 1994 una encuesta organizada por una revista literaria le señalaba como el mejor literato francés con vida.

"Todos los premios literarios son una suerte, dan tiempo y suponen una motivación", afirmó el escritor que, sin embargo, reivindicó su gusto por la vida apartada y aseguró que siempre le ha molestado el ruido de los flashes.

Comentó que escribe para testimoniar aunque no ocultó una cierta frustración por su trabajo y rescató de Dagerman "la paradoja del escritor, que le gustaría escribir para la gente que muere de hambre pero en realidad escribe para gente que tiene suficiente para comer". (...) EFE




* o sublinhado é inveja da mais pura.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

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John Huston, 1972

(Este blogue tem um conselho bestial que merece ser seguido cegamente. Dica: Robert Duvall.)

terça-feira, 30 de setembro de 2008

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por uma vez

Há um poema de Rui Pires Cabral que termina assim: "Por uma vez, que valha a pena morrer." A minha incapacidade para recordar mais do poema de uma forma mais precisa é desanimadora. (Tenho procurado o livro aqui por casa mas não dou com ele; depois o encontro, depois aqui coloco o devido poema.) Quando voltei de viagem contaram-me sobre Newman, sobre as semanas de vida que lhe restavam, sobre a alta que pediu e o querer morrer em casa. E lembrei-me da frase do poema: "Por uma vez, que valha a pena morrer."

É raro não teres um actor favorito. Mais raro será se te julgas cinéfilo ou aferrado na coisa. De verdade que nunca tive resposta pronta para o tema (nem resposta pronta para o tema 'actriz favorita', dá igual*). Mas respondia, a ferros, Paul Newman.

Há Brando e Dean; Cary Grant e Stewart; Fonda e Bogart; Widmark que morreu faz pouco; há Montgomery Clift; Pacino e De Niro; o Redford com quem Newman fez rica dupla. Tudo gente evidente que dói. Os de agora que prezo: Norton e Seymour Hoffman e Depp. Os franceses: Belmondo; o Delon solitário e mudo dos filmes do Melville; o Léaud caprichoso do Truffaut. Ou Richard Burton e William Holden. Ou Mitchum ou Mitchum. Ou Christopher Walken ou Christopher Walken. E faltará aqui sempre alguém.

Mais do que actores, toda esta gente fez parte do meu imaginário de muito puto ou adolescente ou (vem aí repelente expressão:) 'jovem adulto'. À margem deste colectivo imenso, na minha memória sempre correu e sobressaiu Newman.

Convém explicar por esta altura que isto não é um obituário. Não escrevo ou escreverei sobre as características de Newman actor, de Newman piloto, de Newman activista político ou do seu sólido-como-tudo-casamento com Joanne Woodward. Podia tentar fazê-lo, mas era coisa para me arrepender: 1) a falta de talento para tal impera, 2) há quem já o tenha feito estupendamente bem. Aqui só se tenta explicar de onde deriva o meu fascínio por Newman.

Não há como negar: se hoje sou capaz de apontar Newman como meu actor de eleição, muito será pelas semelhanças físicas com mi padre (e só deixei de associar os dois nesta última década e picos de Newman - e por estes dias, o meu bom velhote recorda-me um tipo argentino, actor também ele, Federico Luppi). Eu funciono assim, com esta ligeireza no pensar: Newman era o meu pai, o meu pai era Newman; um e o outro sempre se confundiram por estas bandas.

O meu Newman de puto está em "A Cor do Dinheiro", de Scorsese, um Newman de meia idade como o meu pai então era, de olho azul, bigode, cabelo grisalho. Elegante. O meu Newman de hoje estará em "The Hustler / A Vida é um Jogo", de Robert Rossen.

Seguem-se na lista "Hud", de Martin Ritt, e "O Veredicto", de Lumet. Este último revi há poucos dias - agrada-me aquela personagem atípica em Newman: nada controlado, pouco 'cool'; todo ele sempre à beirinha da ruína (e cá fico com pena de Newman não ter feito muitos mais papéis destes, de 'alma frágil'). Amo muito aquela cena final do filme: não o prodigioso discurso em tribunal (escrita de Mamet, está visto), mas aquele minuto último, aqueles segundos últimos, o toque sem cessar do telefonema de Rampling que Newman não atende: o remorso (?) dela, o orgulho dele. Gosto daquilo - atinge-me no sítio certo.

E tenho "Torn Courtain" em óptima estima, prazer cá meu que me obrigo a rever uma vez por ano. Outro que tenho em alta estima e paradigma do bom envelhecimento de Newman: "Nobody's Fool", de Benton, filme que vi numa cadeira da faculdade.

Faltar-me-á ver "Hombre" e "The Left Handed Gun". Faltar-me-á rever muito da década de 70 e os Tennessee Williams que vi quando criança e pouco recordo...

Chega por hoje. Tenho os horários trocados, a mente entorpecida. Que isto fique escrito apressada e atrapalhadamente sobre Newman e bastará.



* é mentira descarada: Gene Tierney (e não por fazer lembrar a minha figura materna).
** tipo espirituoso, além do mais: "Newman, o crítico sucinto".

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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2.90 €

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Só mesmo para isto: estão a 'oferecer' a edição portuguesa do romance de estreia do Pynchon na Valentim de Carvalho do Saldanha Residence.

(adenda: também se 'oferece' por lá isto, "Primary Colors: A Novel of Politics", do anónimo Joe Klein da TIME.)

domingo, 28 de setembro de 2008

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sábado, 27 de setembro de 2008

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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

isto anda irrespirável


Mihály Víg

terça-feira, 16 de setembro de 2008

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'Plano da semana de formação (15 a 19 de Setembro):'

(...)

IMPRESSIONISMO

/119/

Conheces aquela do Renoir? Já no fim da vida levam-no a uma exposição que lhe era totalmente dedicada. O velhote ia pelo braço de um filho. Só viu dois ou três visitantes - era a obra de toda a sua vida! Sem perder o senso de humor, disse ao filho: "Bem, só me resta pedir desculpa."

(página 125)


("Albas", Sebastião Alba, Quasi)

domingo, 14 de setembro de 2008

A Londoni férfi

Quarta que vem, dia 17, a Cinemateca tem um dia todo ele bestial. Às 15h30, o meu Lubitsch de eleição, "The Shop Around the Corner"; às 19h, "If...", filme de Lindsay Anderson que teima em escapar-me há anos; às 21h30, "Week End", de Godard, outro que nunca pus a vista em cima; e às 22h, "O Homem de Londres", último filme de Béla Tarr. Gostava de ser reformado ou de ter mais uma semaninha que fosse de férias - é altamente improvável que consiga ver seja o que for de tudo isto, mas farei os impossíveis para me escapulir do sítio onde estarei para ver "O Homem de Londres". Se me dessem a escolher um só filme para ver este ano, era este o eleito.

FAZER E DESFAZER

/223/

Lê hoje, se puderes, o primeiro parágrafro de "O mito de Sísifo", de Camus. Meu pai teve, aos 35 anos, um amigo íntimo que era Major do Exército. Todas as noites se encontravam no mesmo café. Ele era alto e vigoroso; à mesa nunca deixava que ninguém pagasse as contas; trazia sempre no bolso, conta meu pai, rebuçados para as crianças.
Não casou, mas amava as mulheres. Nenhuma em particular. Um dia, com uma Walter 7.65, meteu uma bala na cabeça. Deixou um bilhete: "estava farto de abotoar e desabotoar os botões do dolman". Meu pai leu-o, estupefacto. Quase 50 anos depois, o meu velhote ainda diz que morrerá sem entender aquilo.


(página 135)


("Albas", Sebastião Alba, Quasi)
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Fotografia que conheço desde niño - o meu velhote sempre me fez lembrar Newman e os Ray Ban acentuam a memória. Fotografia de Leo Fuchs a Newman durante as filmagens de "Exodus", de Preminger. Vi-a aqui, n'O Acossado, e não resisti em roubá-la sem pudor algum para aqui (as minhas sinceras desculpas). (Devo ainda confessar que estive vai não vai para roubar também este vídeo dos Vampire Weekend.)

a vida nova

Cruzei-me com ela na sexta. Olhares de relance e seguimos cada qual para seu lado. Com uma calma olímpica de admirar. Depois secou-me a boca e caminhei como um autómato durante mais de meia hora. Não sei se devo esquecê-la. Penso apenas que não me convém. Doía-me por demais a consciência se me esquecesse dela por completo. De verdade, não creio sequer que possa esquecê-la. "Passa uma esponja pela memória, rapaz." Mañana começo vida nova. "Vida nova", aqui está uma expressão que me merece máximo desdém e que escuto volta não volta. Que desassossego, meu Deus. Um batalhão de formigas parece que percorre os meus nervos. No final, negligente, folgado e diletante em doses iguais como sou, dará igual, e recuso-me a pensar seriamente no que aí vem. Faço projectos e descarto-os; este será mais um. Duas pessoas que mal conheço (o tipo do café e a rapariga da caixa do supermercado) mais um amigo próximo repetem-me hoje igual pergunta: se vou ver a Madonna? Não, not my cup of tea. Meia Lisboa estará por esta altura na Bela Vista. Morro de chatice nos domingos; julgo que deviam ser abolidos.

a morte de Tchékhov

(...) Chéjov deliraba, hablaba del Japón y de un marinero. Ella le colocó una bolsa de hielo sobre el pecho. Y de pronto, recuperada la lucidez, él le preguntó: «Para qué poner hielo sobre un corazón vacío?»
El doctor Schwöhrer llegó a las dos de la mañana. «Ich sterbe - le dijo Chéjov -. Me muero.»
El médico le puso una inyección de alcanfor. Luego quiso mandar a buscar un tubo de oxígeno. Chéjov le dijo: «Es inútil. Cuando lo traigan me habré muerto.» Entonces, el médico mandó que le subieran una botella de champán.
Chéjov aceptó la copa que le ofrecieron y dijo: «Hacía mucho que no bebía champán.» Vacío la copa y se acostó de lado. Poco después dejó de respirar. Era el 2 de julio de 1904. (...)


('Antón Chéjov', Natalia Ginzburg, Acantilado)

Terna é a Noite

Quando será que as mulheres se compenetravam de que os homens só são vulneráveis no seu orgulho?

(página 241, ed. portuguesa Relógio D'Água)




(Retenho frases algures numa nesga de cérebro por dá cá aquela palha. Ficam soltas, incompletas. A propósito da morte de Tchékhov procuro um sublinhado - costume cá da casa - no livro de Fitzgerald. Se é que existe (?) não dei com o raio da frase; mas calhou bem ter sublinhado esta.)

revisões do último par de semanas


(o meu Wilder - ou este ou "Stalag 17")


(o meu Buñuel)


(um dos meus cinco ou seis ou sete filmes de Ray)


(o meu Altman)


(o meu segundo Altman)


(o meu Peckinpah)


(não o meu Cimino de eleição - que há "Heaven's Gate" e aquele outro)


(não o meu Eastwood de eleição - mas anda lá muito muito muito muito muito muito perto)


Volto sempre aos mesmos.
Como isto me assusta.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sebastião e Ernest

HEMINGWAY, AGAIN

/210/

Estou a reler pequenas histórias, de Hemingway. Em algumas, sente-se que o desencanto aprofunda ainda mais a sua simpatia humana, e que para isso não há consolo.

(página 132)


PARA ERNEST

/14/

Hemingway não é só um narrador ímpar, isolado: a mim segredou-me sempre que se cada um de nós soubesse reconhecer no adversário (ainda que ele fosse tão irredutível como um peixe ou um fascista espanhol) a dignidade e a coragem, quando as tem, não haveria vencedores nem vencidos e, talvez - quem sabe? - A sombra do fracasso jamais toldasse a existência humana.

(página 202)

SUICIDADOS

/133/

Passei o dia dos meus anos a pensar em dois episódios da vida de Ernest Hemingway.
A mãe escreveu-lhe um dia, admoestando-o, porque lhe constava que os livros que ele escrevera eram indecorosos, envergonhavam a família. Os livros, "Fiesta" e "Adeus às Armas", são hoje considerados dois clássicos da Literatura Mundial.
Não li a resposta de Ernest à mãe, mas tenho a certeza de que seria compreensiva e muito afectuosa.
O pai, que era médico, suicidou-se porque não tinha dinheiro para pagar uma dívida, nesse tempo eles tinham outro código de honta, como sabes. No dia em que o velhote fez aquilo, já estava na secretária dele, entre outra correspondência, uma carta de Ernest Hemingway, contendo um envelope para ele cobrir essa dívida. Mas o pai não abriu a correspondência... em vez disso, pegou logo no revólver: estava insone.
Como vês há outros pais e filhos. Que sofreram mais do que somos capazes de imaginar.

Contaram-me, num bar, que uma rapariga de 22 anos acabava de atirar-se para debaixo de um comboio. Pensei nas pessoas "importantes" que via passar às janelas das carruagens. Foram essas que a suicidaram. Pobre-diabo!


(página 214)


("Albas", Sebastião Alba, Quasi)


(nota: se "Fiesta" é sem esforço um dos livros da minha videca, o meu Hemingway é este livro de contos, "Men Without Women".)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

terça-feira, 2 de setembro de 2008

23 de Julho. 1946

Um discurso de comício é da mesma natureza que o rito religioso. Escutamos para ouvir aquilo que já pensávamos, para nos exaltarmos na fé e confissão comuns.


(Pavese, 'O Ofício de Viver', pág. 321)


(à boleia descarada das convenções - democrata e republicana)

sábado, 30 de agosto de 2008

avulso

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Katherine Towne. Entrou numa série da HBO, 'Tell Me You Love Me'. É filha de Robert Towne (argumentista de 'Chinatown', 'The Last Detail', 'The Yakuza', e que anda, creio, distraído com o remake de 'The 39 Steps' de Hitchcok.)

'Palin has international experience because Alaska is near Russia.' *

Não entendo, nem concebo, nem atino com o raciocínio de McCain. A opção por Sarah Palin ultrapassa-me. Sem reflectir em abundância – é coisa que por estes dias está genuinamente fora do meu alcance, isso de pensar muito (ando muito entretido da vida com a filha do Robert Towne e com o Preminger, e muito preocupado da vida com o meio-campo/ataque que o Benfica por lá tem - sem ironia alguma - e a cismar por que motivo não treina o Rosado com os seniores), soa-me a decisão mui pateta por parte de McCain. Foge-me aqui qualquer coisinha; qualquer coisinha desmedida.

Optam os estrategos de McCain por uma ‘desconhecida’, por uma ‘inexperiente’, e se isto não corta o argumento mor dos republicanos contra Obama, a sua repetida ‘falta de experiência’, também não ajuda a cimentá-lo. (E podemos, como me parece ser intento dos republicanos, discutir a ‘experiência’ de Obama face a Palin; e podemos discutir a legitimidade de Obama face a Palin – um ano de primárias de desgaste excessivo e 18 milhões de votos face a uma escolha de um homem.) Mas há quem esteja, lá e cá, em êxtase com Palin – não sobrem dúvidas, tamanho êxtase pela governadora do Alasca e tamanhos conhecimentos sobre a mesma (eu não os tenho) também me escapam.

Os dois mais óbvios prós de Palin: é mulher e expecta-se que atraia uma imensa maioria de eleitorado feminino a votar em McCain (o que duvido); assegura de vez a base mais conservadora do partido republicano (o que não duvido por um instante).

Presumir que as mulheres (e, em especial, as ‘mulheres de Clinton’, as desiludidas com a não eleição de Hillary Clinton – e Palin fez questão de as mencionar no discurso de ontem) vão automática e massivamente votar em McCain por Palin é comovente e imbecil. As ‘mulheres de Clinton’, portanto, se bem entendi, votarão no bilhete republicano por lá se encontrar Sarah Palin, antiga apoiante de Pat Buchanan em 2000, e crente no criacionismo. É este o raciocínio? Pois não creio que resulte; pois não pode ser este o pensamento de quem quer que mande naquela campanha republicana – não os tenho assim em tão pouca conta. Pois não deixa de ser um juízo do mais redutor e ignominioso que tenho memória.

Adiante: Mondale em 84, qual golpe de génio de McCain, escolheu Geraldine Ferraro e perdeu por 18 por cento para Reagan.

Pergunta justa: era Palin a pessoa mais capaz de entre todos os republicanos (homens ou mulheres) disponíveis para o cargo?
Pergunta justa: fosse a escolha de Obama, não Biden, mas Kathleen Sebelius ou Janet Napolitano ou a própria Hillary Clinton, seria Sarah Palin a escolha de McCain?
Pergunta justa: Katherine Towne ou Estella Warren?
Pergunta justa: ‘Fallen Angel’ ou ‘Laura’ ou ‘Whirlpool’ ou ‘Where the Sidewalk Ends’ ou ‘Angel Face’?, de qual Preminger noir mais gosto?
Pergunta justa: é verdade que McCain conhece quase tão bem Sarah Palin quanto eu e esteve reunido com ela um par de vezes? http://www.youtube.com/watch?v=5DD_Ds_mWjQ

McCain é um maverick, leio, escuto. Nem sempre obediente ao seu próprio partido. Daí a surpresa Palin. Conheço a faceta, respeito-a, aprecio-a (como não?). Aqui não vejo vestígios de maverick. Aqui vejo um laivo de irresponsabilidade.

Dogma: nunca menosprezar a competente até à medula máquina republicana. E mantenho que isto está longe longe longe longe de decidido. Mas a opção Palin transpira a absurdo e/ou desespero de campanha por todo o santo o lado; a selecção fortuita.

Poucas dúvidas restam que a decisão tem muito (tem tudo) de táctica, de reactiva – a reboque da escolha dos democratas por Biden. Entendo de boamente, isto é uma campanha política, para mais, em tese, uma campanha desfavorável como tudo aos republicanos, e o timming do anúncio do vice foi perfeito para quebrar o momentum dos democratas pós convenção (80 mil no estádio, 34 milhões de audiência televisiva). Tudo certo. Mas McCain fez ontem 72 anos – o candidato mais velho de sempre – e é dono de um passado médico delicado. Não era a escolha do seu vice exercício para ser levado com seriedade máxima? E tal não tropeça de pronto num par de encontros entre McCain e Palin?

Mais palpites: Biden deve voltar-se para McCain e Bush e ‘desprezar’ Palin na medida do possível e com a elegância que se exige; importar-se com a governadora do Alasca no dia do debate de vices e deixar, no resto do tempo, Palin a cargo de Hillary (esteja ela disposta a isso) ou outro alguém.

A primeira grande decisão de McCain soa-me a extemporânea, pouco clara, e, pior, cínica até mais não. Ou insana, ainda estou para perceber. Mas em última análise nada disto interessa, e os estrategas republicanos têm toda a razão deste mundo. O impacto da escolha dos vices é imensamente mais diminuto do que se tende a supor – os debates entre McCain e Obama, sim, serão seguramente mais decisivos, muito mais, que isto.

McCain contra Obama, a escolha reside aqui, não em Palin contra Biden. Caramba, Dan Quayle contra Lloyd Bentsen. Dan Quayle, um idiota por maioria absoluta. H.W. Bush, no final, com Quayle a seu lado, ganhou a Dukakis, ganhou a brincar.


* http://www.youtube.com/watch?v=IwWGS73v4_k

Preminger, 1949

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José Ferrer para a Gene Tierney: You were wise not to tell your husband, Mrs. Sutton. A successful marriage is usually based on what a husband and wife don't know about each other.

UM FILME

Basta-me um filme de vez em quando; vê-lo bem, dar-lhe o tempo e a atenção necessárias (esta foi uma das melhores lições de cinema — ou de história — que apreendi).

Um dos dez ou vinte da minha vida.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

humiliation

(...) Thucydides long ago concluded that people go to war out of "honor, fear and interest." Putin seems to have chosen conflict largely out of honor, or, put another way, out of perceived humiliation — one of the most prevalent, least explored factors behind global violence. (...)

(Samantha Power, na TIME)

do circo

Aquilo é um circo a que não consigo resistir. Muito se temeu do que dali sairia (páginas 2 e 3 do PÚBLICO de hoje). O melhor e mais empolgante discurso - o excêntrico Kucinich não entra neste campeonato, evidente - que ouvi desde o início da convenção é o de Clinton, o de Bill Clinton.

People around the world have always been more impressed by the power of our example than by the example of our power.

Até Sullivan, pasmem-se, se rendeu.

(Já o discurso de Biden esteve longe de me esmagar - e aqui o craque é do estilo e muito apreciou a escolha pelo senador do Delaware.)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

'A tragicomédia olímpica'

(...) E agora exige-se até que os atletas olímpicos estejam preparados para falar com a comunicação social... Para quê, se ninguém fala com eles o ano inteiro? Mas o mais grave é as declarações de três ou quatro atletas estarem a servir para transformá-los em bodes expiatórios, camuflando o evidente disparate de um comité olímpico que deu por garantidas medalhas que não podia prometer. E colocando em cima dos atletas uma pressão pouco recomendável. Estou pois de acordo com Marco Fortes, o primeiro lançador do peso português a competir nuns Jogos Olímpicos, quando diz que a manhã é para ficar na caminha. Ele, ao menos, sonha a dormir. Tem mais juízo do que um país que passa o dia a sonhar acordado.


(Miguel Gaspar, num PÚBLICO destes últimos dias - eu andei desfasado de tudo isto e o Usain Bolt só tem 22 anos. Sentei-me na sexta e aquilo esteve longe de ser um dia bonito: dois heróis lá de casa foram eliminados - o Balic no andebol e a Lituânia do Sarunas Jasikevicius no basquetebol. Aquele Sarunas, enfim, eu tenho muita e justificada inveja daquele Sarunas.)

(O texto do Rui Tavares de hoje, 'Para Marco Fortes', também deve ser lido com uma certa urgência.)

não compro nem mais um livro este ano (2)

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(Numa improvável e deliciosa livraria de Mostar.)

não compro nem mais um livro este ano (1)

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sábado, 23 de agosto de 2008

Home is so Sad. It stays as it was left, (...)

Lisboa, Paris, Bruxelas, Amesterdão/Delft, Berlim, Praga, Ljubljana, Zagreb, Zadar, Split, Mostar, Dubrovnik, Budva, Podgorica, Belgrado, Sófia, Istambul. Avião para Londres, duas noites, avião para Lisboa. Lista de todas as terras por onde passei na viagem – julgo não falhar nada. (Não escrevo ‘conheci’; ninguém, nem mesmo eu, tem desplante suficiente para escrever que ‘conheceu’ tanto sítio em tão pouco tempo – cá preciso de tempo imenso para ‘conhecer’ seja o que for.) Foram vinte e tal dias, comboio sem cessar – excepção no carro alugado em Zagreb para fazer a costa croata e que serviu para ir a Mostar, Bósnia. Quilómetros a mais, noites sem dormir nada nadinha de nada. Perdi a noção do tempo algures. Falhou-se a ida a Trieste e a Sarajevo. Falhou o desejo (estranhamente sério) do Miguel de passar pelo Kosovo. (Foi o metódico Miguel o motor da coisa, sempre.) Budapeste teima em escapar-me. Não me conhecesse tão bem e dizia que uma viagem assim, vivida como foi, te marca e te muda. À superfície mudas um pouco, talvez; cá bem fundo desconfio que nada. Tenho cem episódios por contar a quem pergunta que esbarram num discurso intimamente desorganizado. Como te apaixonas a seco em e por Berlim (o ‘em’ é exagero efémero; o ‘por’ de exagero não tem nada: zona de Kreuzberg – Oranienstrasse –, Tacheles, a noite e as mais maravilhosas insónias que jamais experimentei, Alexanderplatz, o rio Spree). As gentes de Mostar, simpáticas até ao osso, que te dão abrigo de madrugada e te oferecem de beber. Stari Most; os estilhaços nos prédios. Um edifício em Belgrado – antigo ministério da defesa sérvia – bombardeado pela NATO. Um Igor apátrida – um tipo andrajoso, fétido, tiritante, culto até mais não –; ‘medronho’, disse no compartimento do comboio até Belgrado, atirando a primeira palavra bizarra portuguesa que lhe passou pela cabeça. Ainda Belgrado: cartazes anti e pró Karadzic. A bebedeira para além de todas as medidas em Zadar. Outro Igor: um português de Loures a fazer voluntariado em Ancara enquanto sonha em ser escritor. E como acabas uma noite num festival de música em Budva, Montenegro, com Goran Bregovic, quando horas antes atravessavas a pé a fronteira Croácia/Montenegro às cegas, já noite escura como breu, sem um ruído, sem se ver vivalma. Enfim, eu nunca fui nada disto, confunde-me, sou amodorrado rapaz da cidade. Bregovic, que àquela hora e depois do impensável, te soa a música das esferas – e a Kalasnjikov e a Mesecina podem bem servir de banda sonora da viagem (de conjunto com o amigo Dylan, que, estou capaz de garantir, é possível de ser ouvido em qualquer ermo deste mundo). Há mais: a ex-Jugoslávia é território mui propenso ao irreal. E houve espaço para o arrependimento extemporâneo por não ficar tempo mais em Berlim e encontrar-me com eles depois em algum lugar. A estação de comboios de Podgorica é horrorosamente desagradável, desolação impenetrável. Ljubljana é a nova Praga (isto é uma tentativa de elogio que num dia bom sou rapaz para explicar). Tenho, notei, dois ou três tiques detestáveis que facilmente identifiquei como pertença do meu pai – não consegui parar de matutar nisto. À laia de desculpa de não querer ser vulgar com Istambul calo-me já de seguida. Istambul = mente agitada. Sopro quente, calor, humidade, humidade, calor, suor, e não me restaram muitas t-shirts para vestir mas ganhei dois Ray-Ban de mau gosto a 15 liras turcas cada. Passei, é fácil de ver, do orçamento planeado em muito muito. O divertimento em viagem é coisa dispendiosa. Os prazeres gratuitos são escassos.
Não me levem a mal, Lisboa deprime-me à brava por esta altura do ano. Cá chegado e noite mal dormida, meteram-me num carro e parei na terra do meu velho. Estendido sobre a cama, dormi umas vinte horas de enfiada e folheei três jornais antigos e li que o Isaac Hayes morreu.

sábado, 26 de julho de 2008

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(é ler o rico texto do Ricardo Gross)
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(só mais isto:)

SIGO A NOITE e só de noite me lembro de ti.
Só de noite sinto a tua falta.
Escrevo nas estrelas que tu não vens
que tu não estás comigo
e as estrelas admiram-se.
Que fizeram de nós
do nosso amor
tantos campos tantas terras.
Só quando te beijo sinto o nome do teu corpo.
Um dia parto sem ti e morrerei.


(António Gancho, "O Ar da Manhã", Assírio & Alvim, 1995)

o Thomas Jefferson e o Sabiha Gökçen

Chego a Hendaya ou isso às sete da manhã de domingo com o M. e siga para Paris e etc. etc. etc.. Vou de comboio em comboio agarrado ao quase nada que me vai sobrando; pouco se deixa para trás; sempre fiel ao meu egoísmo. O A. apanha-nos em Paris. (Nota: comprar sandes para não vomitar até Hendaya - sim, conto beber até lá, beber pelo gargalo.) Gosto de referir que vou numa espécie de interrail, numa derivação de interrail, e não num interrail clássico, puro e duro, já que isso dá sempre uma imagem feia e imunda. Sou, de verdade, o inverso: um tipo limpo, asseado. Acresce a isto: mui comodista. O meu interrail será, assim possa, ao nível da viagem de comboio dos Whitman - detalhe novo ao terceiro visionamento de "The Darjeeling Limited" (dvd gentilmente emprestado pelo Hugo): macacos me mordam se na primeira cena da Anjelica Huston - quando a criançada se decide a aparecer-lhe pela frente no tal convento no sopé dos Himalaia - ela não vem abraçada com todas as forças do seu ser a um livro sobre o Jefferson, sobre o Thomas Jefferson. This just keeps getting better and better. O Obama falou em Berlim para uma floresta de gente e eu não ouvi e eu ando muito a leste. Passo por Berlim, disso sei. E pela Sérvia. O Chaves conta que as miúdas mais giras do mundo estão na Bósnia (parece que não se passa por lá, não é certeza); quer que lhe compre uma Leica no mercado de Sófia. Vou na passeata por ser o mais bonito e o mais perdido dos três: quem caminha de lado algum para lado algum. Falta na viagem o amigo Carlos e é uma pena daquelas. Quero parar em Leuven pela Kimmy: quero vê-la: quero revê-la: quero dizer-lhe olá e adeus. Na Holanda fica-se em Delft, em casa da Sofia que anda a tirar doutoramento ou semelhante. A verdade é que ter já lido Yates (e o próprio jovem Torless) com uma idade decente, pode e deve colocar-me numa posição modestamente invejável para suportar toda uma vida de pequenos e sucessivos fracassos. Não comprei o "Lacrimae Rerum", mas já estou fino do torcicolo e tenho uma nova almofada ortopédica. A Vera diz que sou hipocondríaco e picuinhas. Rejeito uma das duas. "Então és parvo", "Parvo é quem fala" pensei eu, mas para meu próprio espanto não o disse. Deixei cair o telemóvel na fresta do elevador e foi parar à cave e morreu e perdi-lhe o número. Nunca mais decorei um número de telemóvel desde um dia, desde um número tatuado no cérebro que nunca vai sair - por muito corajoso que um homem seja, não é corajoso em todas as ocasiões. Anda sempre com aquele rosto coquete, quase amuado. "Vamos finalmente ter uma briga para ver se há fio que valha a pena partir?", pensei e disse (não com este discurso afectado, mas bêbedo, sem dominar as palavras que saíam tortas e desordenadas como todas estas linhas). Os olhos dela fugiram; não respondeu. Com os diabos, eu nunca percebi quando me aproximar e afastar de uma rapariga. Um tipo aproxima-se de outra pessoa para se divertir ou para a amar; não há nada de mau nisso. Para não a fazer sofrer, de repente, esconde uma coisa. Assim começa o desastre. Eu fazia-a rir. Com a K dá igual: jogos mentais de idiota inato. "És contraditório", disse-me ela. Pois que sim. "Estás muito bêbedo?", "Seis e meio". Calha bem despedirmo-nos assim; não sei que pensar. Já não dá para ir ao lar e dizer adeus à dona Zizi, minha ex-vizinha; fui idiota em não ter ido quando podia. Ao tirar o passaporte fui obrigado a pentear o cabelo para trás das orelhas. Foi situação muito vexante, benza a Deus; daí fui cortá-lo e trinta euros. Levo muito livro, livro a mais: "Mocidade" do Conrad, "Men Without Women" do Hemingway (oh, o clichééé), Breece D'J Pancake (não conhecem, é só meu amigo e de mais ninguém), "Estação" do Nuno Bragança, "A puta e o lacaio" da Nina Berberova, e "Fuga sem fim" do Joseph Roth (rico título, amigo Roth). São todos minúsculos e é muito comboio. Já vos falei nas minhas Sanuk - um balúrdio mas há quer ser generoso com o dinheiro do jogo. O Brad Pitt, reparei, tem umas parecidas. Queria ainda agradecer ao João Leitão: foi proveitoso, isto. O meu nariz faz sombras para todos os lados - que maçada -, e tenho dores de barriga no cérebro. Troquei com o amigo W. o "Miami Vice" dele por uma cerveja, um croquete e dois dvd meus que detesto: o "Assassinos Natos" do Stone, mais o "American Psycho" não sei de quem - que duas boas merdas que não valem dois cuspos. Já falar neste preciso momento na contratação do Ricardo Batista faz tremer cada nervo meu, não apenas a voz - fiquei tão pálido como o papel. I am tired, I am weary / I could sleep for a thousand years / a thousand dreams that would awake me (...). Tenho andado envolto numa potentíssima corrente de sonhos. Não, palavra de honra, dispensava-os de bom grado. Provocam-me terror. Gostava de escrever horóscopos e cá me parece que a minha tartaruga Jakob está cega. Que me dizem desta chuva matutina de sexta? Cá aposto que desisto da viagem mal esteja a tentar fazer a mochila e nada lá couber. Espero estar dia 15 no Sabiha Gökçen.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

elogio a John Sayles

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Por ter inegável pinta - a minha ambição de vida passa, se chegar à idade de Sayles, por ter um cabelo semelhante, e ficar tão bem quanto ele de camisa de manga curta (é coisa de irem procurar às imagens do Google). Por ter 'n' entrevistas simpáticas no YouTube que revelam sagacidade à farta. Por ser próximo do grandioso David Strathairn (, e de Will Oldham, julgo eu.) Por ter uma carreira literária que desconhecia e com origens já antigas. Por ser, de parelha com Jarmusch, uma das vozes mais independentes e/ou originais do actual cinema americano. (Num patamar júnior a Sayles e Jarmusch, recordo dois nomes: David Gordon Green - que raio tem feito depois das maravilhas que são "George Washington" e "All the Real Girls"? - e Billy Ray - "Shattered Glass / Verdade ou Mentira" e "Breach / Quebra de Confiança".) Por pisar e repisar caminhos que outros seus conterrâneos não ousam. Por interesse desmedido em saber que terra é aquela em que nasceu; que gente de tamanhas diferenças ali habita. Por entender a importância da história mais íntima daquele país; que tal história deve ser escavada, exposta, e, se possível, compreendida. Por bem sentenciar que o passado não é assim tão passado quanto se julga, que os conflitos estão lá, sempre estiveram, nas mais fundas raízes americanas. Por a palavra ocupar lugar central no que realiza, sempre; ou te aborreces ou te vais encantando devagar pelo enredo delicadamente entrelaçado pela mente de Sayles. Por não recear ser político ("Silver City", 2004), nada por nada inocente - e daí correrá supérfluos riscos de impertinência que mais o prejudicam que outra coisa. Por, enfim, arriscar: saber que o sucesso ou o fracasso do que filma, no final, dará igual: winner take nothing (© Hemingway). Vamos pôr ordem nisto: não se pense que tenho por Sayles igual fascínio que tenho por Jarmusch, por exemplo (já que aqui se escreve sobre os ditos heróis independentes americanos). Mas não ver "Honeydripper", seu filme mais recente, em salas portuguesas (nem expectativas disso) é matéria que chegue para me atormentar a noite. Foi por "Lone Star", que vi algures nos meus catorze anos, que o descobri, que pasmado fiquei, e que de engodo serviu para o resto de Sayles; mas foi por "Silver City / Em Campanha" - achado numa Valentim de Carvalho a saldos - que a Sayles, muito tempo depois, voltei. Em boa hora. De subtil, "Silver City", nada tem ou intenta ter: Chris Cooper (outro dos próximos de Sayles) é Bush chapado, Michael Murphy é Bush pai, Dreyfuss lembra Karl Rove, etc., etc.; e admite-se que não será um Sayles de excelência (estou a pensar em "Matewan", 1987, e no já falado "Lone Star", 96). Compensa com um argumento sólido e inteligente. O argumento, precisamente aquilo em que Sayles - o lúcido Sayles, o totalmente lúcido Sayles - mais acredita.

este Rune é de uma simpatia quase indecente

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