terça-feira, 4 de março de 2008

a Robin Wright Penn fascina-me desde muito niño...

e hoje há primárias no Texas e no Ohio (e em Vermont e Rhode Island, mas aqui pouco interessa: Vermont é de Obama, RI de Hillary). Noite então propícia ao Red Bull e tema mui premente para o meu efémero contentamento. Obama, olhando para todas as sondagens dos últimos meses, teve uma notável recuperação no Ohio - fruto do seu "momentum", das onze vitórias seguidas, da sua organizada máquina política e das ilimitadas doações que a sua campanha vai arrecadando -, mas tenho assente nos neurónios que Hillary aí vencerá - é precisamente aí, em Columbus, que Hillary tem discurso marcado.

No Texas joga-se grande parte da noite. Para Hillary não chega ganhar no Ohio; é um "must win" nos dois estados como o próprio Bill Clinton já admitiu. Ganhe Obama o TX - terceiro estado que mais delegados fornece aos democratas (228) - e, palpite meu e de um "estratega" democrata careca que ouvi na CNN há um par de semanas entrevistado pelo Anderson Cooper, a eleição democrata é dele por muito que Hillary esperneie e resolva arrastar a coisa até às últimas consequências - leia-se nisto, até à convenção do partido em Denver, lá para Agosto, com tudo o que de nefasto ou importuno isto pode causar ao nomeado democrata, com tudo o que de benéfico isto pode trazer a John McCain. (Pode, em itálico, longe de ser certo - explico lá mais para baixo se isto correr bem.) Perca o Texas e as pressões sobre Hillary dentro do partido para que abandone serão mais do que muitas.

O problema reside nisto: (e aqui vem outro palpite revelador do meu insigne génio:) se as sondagens de ontem dão o Texas para Obama - ainda que por uma curtíssima margem percentual -, eu digo que o estado onde nasceu Wes Anderson e Owen Wilson, Tommy Lee Jones e Kris Kristofferson, Patricia Highsmith e Ornette Coleman, Anna Nicole Smith e Robin Wright Penn (está encontrada a perfeita justificação para o título), Woody Harrelson e o seu peculiar papá, o estado que viu crescer e onde habita Terry Malick - enfim, passei uma boa meia hora entretido nisto na Wikipedia -, acabará por cair para Mrs. Clinton. Causas? Os 30 a 40 por cento de hispânicos no estado e os seus últimos discursos tidos de cariz mais "populista" ao bom estilo John Edwards. (Nota aqui: o "populismo" de Edwards é muito do meu agrado, mesmo; tenho para mim que daria um vice perto do ideal para Obama; o ideal seria a própria Clinton mas parece impossível, adiante.) E este cenário de dupla vitória de Clinton é uma maçada daquelas para o partido democrata.

Só altas e improváveis diferenças percentuais - hoje e nas próximas primárias - permitirão a Hillary alcançar os delegados comprometidos de Obama, mas ganhar no Texas e Ohio, mesmo que à tangente, mesmo que com uma irrisória aproximação quanto ao número de delegados, dar-lhe-á justificação de sobra para se manter na corrida e tentar quebrar a corrente de Obama. Ganhará, afinal, os "big states": os de hoje, a serem ganhos, juntar-se-ão a Califórnia, NY, NJ, Massachusetts. Como contraprova, Obama terá a apresentar Illinois, o "seu" próprio terreno, onde ganhar não era só expectável - era exigível -, bem como uma série admirável de estados mais pequenos.

Se Obama não ganhar hoje no Texas, se Obama não ganhar nas primárias da Pensilvânia (22 de Abril, 188 delegados), se Obama não descolar de Hillary até 7 de Junho (nos "caucus" de Puerto Rico), no pior do pior dos cenários para os democratas, a eleição arrasta-se até à convenção. Aí o caso complica-se: prevê-se "sangue" entre os candidatos e um partido partido ao meio frente ao mais forte candidato que os republicanos podiam apresentar – tenho dúvidas que os próprios republicanos o saibam, mas qualquer outro nomeado que não McCain seria, estou convencidíssimo, esmagado, de tão péssimos que eram. (Lamente-se que em 2000 não tenha sido McCain o republicano escolhido, lamente-se as tácticas na altura usadas pela campanha de Bush e hoje aparentemente esquecidas por McCain.)

Volte-se aos democratas: este cenário fratricida na convenção, se evitável, melhor; caso contrário, não o encaro como catastrófico ou decisivo para uma eventual vitória final de McCain em Novembro - a excepção será Obama chegar à convenção com mais delegados comprometidos e perder pelos superdelegados: era escandaleira e "hara-kiri" democrata.
(Regresso então ao pode:) Mas considere-se pois que tudo se resolve na pior paisagem para os democratas: o tempo de antena no Pepsi Center em Denver para aquela convenção será ilitimado; e se McCain poderá ganhar uma aura de candidato "único", que se passeará pelos estados americanos à espera de oponente, não é menos verdade que a atenção de tudo e todos continuará por inteira, como até aqui, do lado dos democratas.

Mais dois pontos: a) McCain tem ainda muitos votos republicanos por convencer, a tal base conservadora que olha de soslaio para o veterano de guerra, mas liberal em demasia: e se ceder à direita - como muitos do seu partido estarão à espera -, perderá o centro, onde a mensagem de Obama tem propagado de forma espantosa, e onde tudo, como sempre, se decidirá; e b) a comparência às urnas por parte dos eleitores democratas tem dobrado, pelo menos, a dos republicanos em todos estados - o que mostra um partido, dividido ou não, altamente motivado em romper com os 8 anos de Bush na Casa Branca.


(Declaração de interesses: Este blogue torce e sofre por Obama mais, muito mais, do que pelo clube onde joga Milan Purovic. Culpo o Ted Sorensen e os 37 mil caracteres do texto do Andrew Sullivan e o talento de Barack para o basquetebol - nº23 - por isso. Reconheço simpatia por Clinton - nem que seja pela apoplexia que só o seu nome causa aos mais acérrimos republicanos -, e o senador do Arizona, vejam lá bem, é um tipo que não odeio - "republicanamente" falando, evidente. Simplifique-se a coisa: nas minhas preferências: Obama > Obama > Obama > Obama > Obama> Obama > Obama > Obama > Hillary Clinton > McCain.)

(Não quero que vos falte nada: a Robin Wright Penn e o Sean Penn vão-se divorciar; ambos apoiavam o Kucinich.)

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Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.