segunda-feira, 21 de julho de 2008

Sebastião Alba vem comigo a Istambul

Tem sido um ano notável no que a livros diz respeitinho: tenho lido uma porrada de coisas muito edificantes, atraentes, espirituosas, e tragicamente lindas. Assim de cabeça: Daudet e Bolaño e Mário de Carvalho e, muito em especial, o Torless do Musil (que leva um trema no "o"), muito em especial e se não erro por muito, as páginas 181, 182, 183, 184 e 185 do Torless do Musil. Mais Saroyan e Cheever e Lorrie Moore. Mais Casares a rodos e, em iguais doses de muito em especial, Kleist, o bom do Kleist: "A Marquesa de O / O Terramoto no Chile" e "Noivado em S. Domingo". Cada uma mata o tempo livre à sua maneira, cada um tem o seu temperamento de pateta inato: leio, vejo, viajo, bebo. Eu não fumo. Enfim, o livro do post abaixo, é, será, suceda o que suceder até fins de Dezembro, o meu livro favorito lido em 2008. Sou capaz de me lembrar, juro, ainda que por alto, das narrativas dos onze contos que compõem o dito livro só pelo título dos mesmos - algo muito impossível aqui para o miolos de pisco. Richard Yates era todo ele uma tragicomédia errante, homem de eloquente sapiência que o álcool precipita, e a quem devo prestar culto uma vez por dia. Poesia? Aquele da Judith Herzberg, o único que vou lendo, a tal "poesia leve, em que cai a sombra dos dias e a os pesadelos da memória" como um tipo lê no prefácio do Jorge Silva Melo. Não ando com cérebro para mucho mais e aquilo faz-me boa companhia. Tenho um certo remorso ou uma certa vergonha por ainda não ter pegado no "Albas" (cartas, poemas, rascunhos do Sebastião Alba), livro que comprei por um preço obsceno de barato na Quasi. O meu livro de poesia de cabeceira, esse, continua desde há uns bons anos a ser o "Janelas Altas" do Larkin; julgo que tão depressa não sai de lá. Por ler? O novo Walser, o "Rayuela" e "Fome" do Knut Hamsun, livro prometido pela Cavalo de Ferro. Um tipo que tanto lê devia reter isto e aquilo com a infelicidade dos outros - com a minha apreendo pouco. A minha salvação é não pensar - sou todo passado e não me atrevo a pensar muito no futuro. Vou numa derivação de interrail com um par de amigos; destino: Istambul.

(To be continued...)

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«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.