quarta-feira, 23 de abril de 2008

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(a entrevista completa ao "Tchékhov dos subúrbios" pode ser lida aqui)

John Cheever (2)

INTERVIEWER
Do you think narcissism is a necessary quality in fiction?

JOHN CHEEVER
That's an interesting question. By narcissism we mean, of course, clinical self-love, an embittered girl, the wrath of Nemesis, and the rest of eternity as a leggy plant. Who wants that? We do love ourselves from time to time; no more, I think, than most men.

INTERVIEWER
What about megalomania?

JOHN CHEEVER
I think writers are inclined to be intensely egocentric. Good writers are often excellent at a hundred other things, but writing promises a greater latitude for the ego. My dear friend Yevtushenko has, I claim, an ego that can crack crystal at a distance of twenty feet; but I know a crooked investment banker who can do better.

John Cheever (1)

INTERVIEWER
I was reading the confessions of a novelist on writing novels: "If you want to be true to reality, start lying about it." What do you think?

JOHN CHEEVER
Rubbish. For one thing the words "true" and "reality" have no meaning at all unless they are fixed in a comprehensible frame of reference. There are no stubborn truths. As for lying, it seems that falsehood is a critical element in fiction. Part of the thrill of being told a story is the chance of being hoodwinked or taken. Nabokov is a master at this. The telling of lies is a sort of sleight of hand that displays our deepest feelings about life.

INTERVIEWER
Can you give an example of preposterous lie that tells a great deal about life?

JOHN CHEEVER
Indeed. The vows of holy matrimony.

quase quase dez por cento...

foi esta a margem da vitória de Hillary Clinton (54,7 contra 45,3). Um resultado que excede os meus palpites (que andavam algures pelos seis ou sete ou oito por cento à maior para a senadora de Nova Iorque), um resultado que lhe dá mais um balão de oxigénio - leia-se, que lhe permite angariar mais dinheiro para que o seu favoritismo no Indiana não se esbata. Indiana é o estado "must win" que se lhe segue (a Carolina do Norte aparenta estar perdida). Hillary sai da Pensilvânia com 10 a 15 delegados a mais do que Obama, número ainda incerto, mas número que pouco a ajuda, e há quem avance com a tese de que a vitória de ontem pode até causar um efeito contraproducente para a sua campanha:

Could Obama's defeat last night actually speed up the process of superdelegates declaring themselves in favor of Obama? Maybe. Here's the logic.



E há quem encare a derrota de Obama como um rude golpe para a sua elegibilidade ("The Next McGovern?", um artigo pateta de um tipo muito inteligente). E há quem note que apesar da luta fratricida dos candidatos democratas, ambos continuam bem colocados para a eleição de Novembro. E o editorial do NYT - jornal que, lembro, apoiou Hillary Clinton - arrasa a ex-primeira-dama. E há um tipo na blogosfera americana que se chama Thoreau. Fui à Bertrand perguntar pela LER. A simpática rapariga disse que até ma dava, sim senhor, mas tinha de comprar um livro. Um qualquer. Perguntei-lhe pelo "Lavagante". Trouxe-o. Fiquei feliz com o negócio, pareceu-me bom. Fui direitinho à lista dos "50 autores mais influentes dos século XX". Encontrei o F. Scott Fitzgerald, nome óbvio, natural, e fico descansado quanto à lista. E de seguida o bom do Salinger. Fico sempre menos enfadado da vida quando encontro o nome do Salinger numa lista; sempre. Ao mesmo tempo acho que daqui a uns anos vou gostar menos dele; que um tipo com a idade o vai esquecendo. Talvez não, talvez não, espero que não. O Faulkner era um tipo espirituoso como tudo, a fotografia não mente. Eu cá metia lá o Walser à força, que se dane se foi muito ou pouco ou nada influente. E o Lowry. E o Bioy Casares, caramba. Gosto muito muito muito de o ler, cada vez mais; um escritor bonito:

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e também é isto, cansaço

Save Us!

I have to say that I'm getting really tired of this. All the superdelegates should just say who they're voting for and bring this to the end. If they want to back Hillary Clinton despite Obama's majority in elected delegates, they should say so. Or if they want Barack Obama to be the nominee, they should say so. The idea that in two weeks we'll have another inconclusive primary, then another, then another, then another and then the superdelegates make up their mind is inane -- everyone else who follows politics can decide.



(Matthew Yglesias)

e pronto, é isto

NBC's Ron Allen makes a smart point I haven't seen elsewhere: Hillary Clinton's two main campaign justifications contradict each other. Justification number one is that Obama can't win "the big states that Democrats will need in November." She claims this because she's winning those states in the primary, and she's doing it because she's winning a slightly larger share of the Democratic electorate there. Justification number two is that the extended primary isn't hurting the party's chances, because the Democratic base is bound to unify in the fall. As Allen points out, if that's true, then Obama shoudn't have a problem winning those states in November.

In general, I think the coverage of Pennsylvania is wildly overblown. What happens tonight is not going to effect the outcome of the nomination. Obama will be the nominee, and the only thing that could stop him would be a massive scandal. If Wright and Bittergate couldn't dent his standing, a loss in Pennsylvania won't, either. The only thing the Pennsylvania results could possibly change is the timing of Clinton's departure, and even that won't happen unless Obama somehow pulls off a shocker upset win.

The conventions and structural biases of journalism dictate that importance must be read into whatever outcome occurs, but the fact is, it really doesn't matter.



(Jonathan Chait, na "The New Republic")

CNN projection

Clinton wins Pennsylvania Primary. E a margem e a margem? Até já.

defensor do ano na NBA

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CNN exit polls: competitive race in PA. between Obama and Clinton. Patetice. Ganha ela. Até já

gestão de expectativas

Not for nothing, I'd characterize the mood of the Clinton campaign as cautiously optimistic, and that of the Obama campaign as optimistically resigned.


(Marc Ambinder, aqui, um tipo da blogosfera política americana com muitas fontes, amigos, conhecidos, etc.. Até já.)

terça-feira, 22 de abril de 2008

o amigo Terence Samuel...

prevê a vitória de Obama na Pensilvânia:


That creaking noise you hear is the sound of me going way out on a limb to predict that Barack Obama will win the Pennsylvania primary on Tuesday, finally ending Hillary Clinton's presidential ambitions.

After all the sound and fury, the race in Pennsylvania will come down to the strength of get- out-the-vote (GOTV) operations, and I think the Obama campaign's organizational advantages will be enough to push Obama past Clinton by almost two percentage points. He's got money, he's got energy and enthusiasm (despite his debate performance on Tuesday), and he's got Philadelphia and its suburbs.



O amigo Terence Samuel é um optimista. Não gosto nada de gente optimista. Deprimem-me tremendamente. O amigo Terence Samuel não tem razão. Até já.

Quaker State

Um "princípio de bronquite" é aborrecido à brava, mas enfim, descobri agora que a Sextante editou há uma porrada de tempo o "Falconer" do John Cheever. A Hillary Clinton ganhará a Pensilvânia (188 delegados), sexto maior estado americano em termos populacionais. Nisso não há qualquer surpresa, é um estado demograficamente à medida da senadora de Nova Iorque. Se ganhar por dez é uma vitória decente - ainda que provavelmente insuficiente para abalar a aparente sólida vantagem de Barack Obama. Se ganhar por cinco ou seis ou sete (como eu palpito) é uma vitória para o ego da sua campanha. Por menos disto nem vitória é, mas a ex-primeira-dama continuará sempre na corrida, vença por um por cento ou dez ou vinte. Em Maio há mais e a conversa será a mesma. Desconte-se Guam (9 delegados, dia 3 que aí vem), dia 6 de Maio é certinho que Obama ganhará a Carolina do Norte (134 delegados, o último dos grandes estados em jogo - isto se a trapalhada na Florida e Michigan ficar como está), e as expectativas são de que o faça de forma bem convincente. No mesmo dia outro estado em jogo: Indiana (84 delegados), Hillary é clara favorita pelas mesmíssimas razões demográficas das de hoje; conta com apoios importantes - como o do senador Evan Bayh, forte candidato a vice de Hillary -, mas as últimas sondagens mostram Obama a sair-se melhor do que o esperado. Indiana é o estado que me parece mais decisivo daqui até ao fim das primárias democratas (em Junho): ganhe Obama a Carolina do Norte e Indiana no mesmo dia e a candidatura de Hillary Clinton esvazia-se de sentido, irreversível. Obama tem na teoria mais hipóteses de vencer no Indiana do que vencer hoje na Pensilvânia - dizem-no as sondagens e não esquecer que é estado vizinho do Illinois -, mas repito a ideia: Hillary mantém-se como favorita no Hoosier State.

Filadélfia é a cidade chave para hoje. Se a taxa de afluência for aqui elevada, Obama é favorecido - dá-se melhor que Hillary nos grandes centros urbanos; se não, maior será a vitória de Hillary. Outro dado que pode atenuar a vantagem de Clinton hoje: o apoio do senador da Pensilvânia Bob Casey a Obama. Até já.

The Evangelist

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"A Place To Hide Away"

(ainda não sei bem como resistir à tentação de um título como "O Evangelho segundo Robert Forster". O álbum é bom, muitíssimo bom, com meia-dúzia de canções de excelência: "Demon Days", "Let Yout Light In, Babe", "It Ain't Easy" - estas três, leio aqui, com o cunho de Grant McLennan -, "If It Rains", "From Ghost Town" e a de cima. Pelo menos estas. Até já.)

sábado, 19 de abril de 2008

Forgetfulness

Forgetfulness is like a song
That, freed from beat and measure, wanders.
Forgetfulness is like a bird whose wings are reconciled,
Outspread and motionless,
A bird that coasts the wind unwearyingly.

Forgetfulness is rain at night,
Or an old house in a forest, or a child.
Forgetfulness is white, - white as a blasted tree,
And it may stun the sybil into prophecy,
Or bury the Gods.

I can remember much forgetfulness.


(Hart Crane)

La Notte



(Sofia, tinhas razão)

ler os outros ©

(ainda que com um atraso danado)

* sobre Mário de Carvalho e o seu último romance: este texto de João Paulo Sousa no Da Literatura, mais este de Sérgio Lavos no Auto-retrato;

* sobre Rubem Fonseca, texto de Eduardo Pitta;

* a entrevista de David Berman à Pitchfork, via vidro duplo:

Pitchfork: When you're not recording, do you have a daily routine?

David Berman: I read a lot. I read, like, ten hours a day.

Pitchfork: Sounds perfect.

David Berman: I figure that's what I'm supposed to do when I'm not working. I think that I'm supposed to keep learning, in order to be useful in the event of an emergency, I don't know. I still have to learn how to make knots and all of that stuff. And why France collapsed so easily in 1940. There's a million things I have not caught up to. I spend a lot of time reading, a lot of time reading the Torah and Jewish texts, Jewish history. For about a year, I haven't read any fiction. It just strikes me as completely irrelevant.


* Cohen de bolso, João Bonifácio no Sinusite Crónica;

* Psychologist coach who puts Barça stars on the couch, entrevista de Simon Kuper a Frank Rijkaard no Finantial Times:

[sobre Messi:] He’s a fantastic dribbler, but he was making leaps forward by seeking variation in his game: one time you dribble, another time you give the ball back and go deep. And then you don’t have the risk that his team-mates just watch who he’s dribbling past. He was becoming more effective by doing less. He was fighting so hard for that. There was a rising line: he was becoming even more dominant. So this is a gigantic setback. I know how hard it is for him not to play matches. ‘Give me the ball, whether there’s 10 people watching or 100,000’.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

James Gray



(mortinho por ver "We Own the Night", essa é que é essa)

La carencia

Yo no sé de pájaros,
no conozco la historia del fuego.
Pero creo que mi soledad debería tener alas.


(Alejandra Pizarnik)

One April Day


(Merritt)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Retiro, Madrid (2)



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foto: Bruno Pereira


(música(s) - esta e a outra mais abaixo - do Robert Wyatt, do último álbum do bicho.)

(ainda de memória) Eugenio Montale

"Procuro o sinal desaparecido, o único penhor que tive como graça tua.
E o inferno é certo."

Retiro, Madrid (1)



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(sou um barojiano convicto: Dejemos las conclusiones para los imbéciles.)

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foto: Bruno Pereira

Eugenio Montale (citando de memória)

"Há quem goste de
beber a vida gota a gota ou a jorros;
mas a garrafa é a mesma, não se
pode enchê-la quando se esvazia."

o outro Marlon Brando

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Lou Castel, Ulv Quarzell - seu nome de nascença -, nascido em Bogotá, filho de pai colombiano e mãe sueca, protagonista de "I Pugni in tasca" (1965, imagem da esquerda), filme de Marco Bellochio. Entrou ainda, entre outros, em "Il Gattopardo" de Visconti e em "The American Friend" de Wenders - leio isto no Imdb, não me recordo de Lou Castel em nenhum dos dois. Palavra que o vi num Starbucks em Madrid, naquele bem perto de todos os museus. Com um espantoso ar de ausente. Tenho inclusive duas testemunhas que não o conhecem de parte alguma e concordam comigo sem hesitar.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Wise Old Little Boy



(uma espécie de encómio a Phil Elvrum)

quarta-feira, 2 de abril de 2008

A paixão

32

― Que estás a fazer? ― pergunta Anna.
― Estou a ver uma fotografia.
― Espero que não seja de alguma antiga namorada.
― Não, porque foste pensar isso? ― respondo.
― Em que estás a pensar? ―, pergunta Anna, da mesa da cozinha e do trabalho que avançava a passo largo.
― Estou a pensar no cancro e é uma coisa que me assusta ―, respondo dizendo a verdade, enquanto pressiono as pálpebras com as pontas dos dedos. Faz-se um estranho silêncio da outra sala.
― E tu, em que pensas? ― pergunto, por mera cortesia.
― Não estou a pensar em nada, estou a pensar nas mentiras ― responde Anna secamente.
― Que mentiras? ― pergunto. Ela não responde, só suspira.
Agora levanta-se da mesa da cozinha e arruma os papéis. Depois abre a porta da despensa. Tira uma grande tigela cheia de leite. Quer dar-me um copo de leite. Fico a ver a falta de jeito dela. Volta-se para o interior da sala e tenta fechar a porta da despensa com o cotovelo, o leite entorna-se, ela olha para mim como a pedir ajuda, mas eu finjo que não vejo. Dá um passo, coxeando. Derrama mais leite. Tenta compensar o movimento inclinando a tigela para a frente. Outro passo e cresce a mancha branca no chão. Andreas, diz ela desesperada, deixando cair a tijela que se parte, o leite esparrinha em todas as direcções. Ela estende as mãos, na cara uma expressão insuportável de súplica. Abraço-a.
Abraçarmo-nos assim tornara-se a nossa frágil protecção contra o mundo exterior, contra os nossos próprios momentos de desintegração e horror. Não havia alívio nas palavras, que há muito tempo se tinham esmagado pelo mau uso. Mas abraçarmo-nos assim com força ainda era uma salvação. Nunca fez desaparecer a solidão interior, mas acalmava o coração assustado e interrompia uns instantes a sensação de uma catástrofe inevitável. Dava-nos tempo para ganhar ânimo e esquecer o que realmente acontecia à nossa volta. O que no fundo acontecia connosco.

Ingmar Bergman, A paixão
Tradução do original sueco de Inga Gullander
Revisão de Luísa Costa Gomes
FICÇÕES de filmes (Julho de 2005)

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«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.