"Sam Fuller é provavelmente o talento mais explosivo que alguma vez abriu caminho através de Poverty Row. Excêntrico, iconoclasta e na tradição do jornalismo tablóide (Fuller começou como repórter e um dos seus filmes mais pessoais, "Park Row", trata do primitivo jornalismo nova-iorquino), os seus filmes ostentam todos a mesma vibrante marca individualista. Um dos poucos realizadores americanos com orçamentos baixos que escreveu e dirigiu de modo consistente a maior parte dos seus filmes, teve de fazer muito menos compromissos em relação ao seu material que qualquer outro dos seus contemporâneos, apesar de ter tido ainda de se contentar com actores ou prazos inapropriados. Contudo, no caso de Fuller, ele foi geralmente capaz de transformar mesmo as restrições mais castradoras num estilo espantosamente consistente e excitante. Os seus filmes estão repletos de um trabalho de câmara significativamente inventivo com padrões de montagem pouco habituais e complexos que têm tanto de extraordinariamente ousados como de extremamente pessoais. Escreveram-se vários livros sobre a sua obra em França, Inglaterra e Alemanha, mas o reconhecimento americano há muito que lhe é devido. Os seus westerns ― "I Shot Jesse James", "Run of the Arrow", "Forty Guns" ― não só são diferentes e contracorrente como estão também cheios de um certo tipo de autenticidade belicosa. Além disso, fez os únicos filmes de guerra que parecem feitos por um homem que a viveu, coisa que fez como membro do 1º de Infantaria ("The Big Red One") durante a Segunda Grande Guerra. "The Steel Helmet", "Fixed Bayonets", "China Gate", "Merrill's Marauders", "Verboten!" estão completamente isentos do sentimentalismo ou da piedade que enforma a maior parte dos filmes sobre homens em guerra; fica-se com a ideia de que era realmente assim ― amoral, totalmente destrutiva, insuportavelmente intensa e claustrofóbica.
Os filmes policiais de Fuller são igualmente terríveis, sendo os melhores "Pickup on South Street" e "Underworld, U.S.A.", definitivamente clássicos e revelando juntamente com os outros, "The Crimson Kimono", "Shock Corridor", "The Naked Kiss", um lado decididamente não glamoroso e frequentemente escabroso da vida americana moderna. ("House of Bamboo" transportou os seus desagradáveis americanos para o Japão, dando deles uma imagem igualmente implacável.) Frequentemente extremista, a sua visão do mundo reflecte-se em amplas pinceladas expressionistas e pertence inteiramente ao cinema; imprimiu o seu entusiasmo intransigente e incontrolável pelo cinema em cada plano que realizou."
("Nacos de Tempo ― Crónicas de Cinema", Peter Bogdanovich, Livros Horizonte, 1986)
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