terça-feira, 17 de junho de 2008

gente que pensa bonito

prova a)

Avulsos

Estava na hora de Shyamalan começar a filmar argumentos de outros, tão pouco "Shyamalanescos" quanto possível. A ver se o seu talento deixa de estar sufocado pela beatice da sua "visão do mundo". Luís Miguel Oliveira, Ípsilon (a Propósito de O Acontecimento)
Infelizmente concordo. Sempre me opus às acusações de naïvité e beatice lançadas à obra de Shyamalan (no que Žižek e Bénard da Costa, cada um a seu jeito, expressamente me têm apoiado). Mas a triste verdade é que começo a ficar sem argumentos para o defender. O mais grave é que a continuar nesta senda Shyamalan está a "decidir" retroactivamente o modo como alguns dos seus filmes, de recepção liminar, ficarão para a posteridade. Ora, isto é algo que abala a minha autoridade nas memoriosas mesas de café deste país. O Sexto Sentido, O protegido e A Vila, filmes que reputo, teriam beneficiado em muito de uma morte prematura do seu autor (às mãos de ETs, por exemplo). Mas enfim, há ali inequívoca centelha de génio. É cedo para desistirmos. Acho eu.

prova b)

Obama

"Obama é uma doença infantil pateticamente alimentada pela "esperança messiânica" da esquerda europeia, ainda mais infantil uma vez que o homem pouco tem de esquerda." É esta a tese dos lúcidos de serviço que nos querem proteger das nossas ilusões. Nada mais paternalista. Eles já perceberam que apoiar Obama obriga à ingenuidade de julgar que a Realpolitik americana se vai dissolver no ar; à ingenuidade de acreditar que se vão afrontar os interesses económicos instalados nos Estados Unidos; à ingenuidade de presumir que acabará o apoio militar a Israel; à ingenuidade de ver a retirada do Iraque como o toque de midas que trará hamonia à colónia. Na verdade, ingénuo é quem assim reputa os outros porque capazes de algum entusiasmo.

O facto é que basta ouvir Obama falar de política internacional, da importância de saber dialogar com os inimigos (sim, como o Mário Soares), da importância do multilateralismo (leiam as declarações dele sobre o Irão), da importância de tirar a religião da política, da importância de se acabar com chantagem do patriotismo e da insegurança, etc. para se chegar à brilhante conclusão que depois de Bush não é preciso um messias para fazer toda a diferença. Sim, a eventual eleição de Obama carrega vastas esperanças após 8 anos indecorosos de política americana. So what?


daqui: avatares de um desejo

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«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.