segunda-feira, 30 de junho de 2008

"voltamos à análise científica de Rui Santos"

Estou manifestamente satisfeito. Ganhou a minha selecção à partida desta bodega - vá, fora a selecção cá da terra e mesmo com a não convocação de Guti. Para mais, ganhou contra a mais hedionda selecção deste euro. (Não, não me parece que alguém possa considerar a Polónia, a Áustria ou a Grécia como selecções.) Ganhou quem tinha nove jogadores de futebol em onze titulares - estou a descontar destas contas Capdevilla e Marchena, que são futebolistas competentes como podiam bem ser outra coisa qualquer com igual competência. Ganhou Aragonés, o velho, o ultrapassado. Racista, até, alguém disse depois do espirituoso episódio com Reyes. Ganhou um treinador espanhol à frente da selecção espanhola. E ainda deu para esmagar Hiddink e a sua aura de mágico por duas vezes. Ganhou um treinador que a meio do Euro se descobriu ter acordo milionário na Turquia para treinar o Fenerbahce - que se saiba, nenhum jogador espanhol morreu de desgosto por isso ou se desconcentrou fatalmente. É tudo muito bonito e tudo desmitifica os lugares comuns do costume. Ganhou a Espanha e perderam os clichés: de que a Espanha jamais passaria dos quartos ou mesmo da fase de grupos; de que Aragonés era um treinador obsoleto; de que é necessário um seleccionador estrangeiro com nome para pôr ordem numa selecção composta por bons jogadores; de que o anúncio por parte do Chelsea da contratação de Scolari tudo estragou; de que "onze para cada lado e no final ganha a Alemanha" - só a Lineker e a mais ninguém fica bem dizer isto. Tretas: é uma delícia ver tudo isto cair por terra. Há ainda um complexo português contra os espanhóis que me soa a idiota, provinciano, e julgava esbatido. Não, não está. Aqui não se torcia por Espanha por ser país vizinho ou amigo ou o raio que o parta; aqui torcia-se por Espanha por ter gente (muita) capaz de jogar bem (muito). Portugal teve uma oportunidade bestial de chegar à final, não era utopia alguma ou a usual megalomania: era um grupo de individualidades acima da média e um sorteio absurdamente feliz. Agora, evidente que até dói, Queirós. Caso não esteja para aturar Madaíl e/ou ame ser treinador de campo do United, que Aragonés faça moda, que venha um velho; que venha Manuel José, sim. (Se não gosta, caro leitor, de Manuel José, posso garantir que morria se lhe contasse qual a minha terceira opção.) Não se complique o que é básico. O futebol sempre teve muito mais de simples que de complexo; Aragonés sabia-o. Lema novo: onze para cada lado e no final ganham os anões do meio-campo espanhol. Xavi, Iniesta, Senna, o suplente Fabregas, Silva, que deleite; e lá para trás, Ramos, Puyol e Casillas; e lá para a frente, Villa e Torres. Neste último mês gostei muito de ler o Ferreira Fernandes n'O Jogo e o Menotti no Record quando os apanhava; e gosto sempre sempre da escrita sobre bola do Nuno Ribeiro, correspondente do Público em Espanha. La Cancha, é o nome da crónica semanal do NR. Vila Praia de Âncora é um sítio bem simpático, monotonamente bem simpático. Uma terra que me torna sarcástico. Li um conto do Saroyan que me derreou, preferia não o ter lido; agora peguei num livro da Lorrie Moore que muito adiei depois de ler o Pássaros da América. Está a dar o Ocean's Twelve na Rtp1. Tenho um prazer eterno em ver os filmes da série, acima de tudo por isto: aquela gente veste-se bem.

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«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.