sexta-feira, 28 de março de 2008

Fuller sobre "Pickup...", Fuller sobre Widmark:

"The only actor I ever had in mind to play my lead was Richard Widmark, who was under contract at Fox then. A born individualist, Widmark had a strange face, with that twisted, arrogant smile, that didn't fit into anybody's scheme of Hollywood hadsomeness. He walked and talked like nobody else, yet there was nothing ostentatious about him, the kind of man who wouldn't call to much attention to himself on a crowded subway. Widmark was perfect for Skip."

(de um livro da edição da Criterion de "Pickup on South Street")

quinta-feira, 27 de março de 2008

Richard Widmark

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Um tipo acorda e fica meio estupidificado a olhar para uma notícia destas. O Widmark morreu. Cá confesso que nem o sabia vivo, mas fico acometido por aquela nostalgia usual, meio terna, meio mal-humorada. O Widmark, actor de patamar mítico, morreu. O Widmark da minha memória mais habitada é o Widmark de Fuller, o Widmark de "Pickup on South Street". O acaso é uma útil invenção dos homens para isto: revi o filme de Fuller não chega há duas semanas. Encarnava o tal anti-herói em que Widmark era figura perfeita; no papel de protagonistas "sombrios, frios como répteis" - como escreve o Luís Miguel Oliveira como sempre com acerto. Widmark tinha agora 93 anos, idade ultra respeitável (ia escrever "idade bonita", mas não existe uma qualquer "idade bonita" para se morrer; é uma frase imbecil). Aconteceu o que sempre acontece. Fica o registo de um trabalho de notar.

Outros dois filmes, outros dois noirs cá da casa são "Kiss of Death", 1947, de Henry Hathaway - primeiro filme de Widmark, no papel de um tipo sádico, Tommy Udo, riso fácil, malévolo, que lhe valeu de imediato a nomeação para o Óscar de melhor actor secundário; e "Night and the City" (imagem de cima), 1950, de Jules Dassin, no papel do escabroso (não é esta a palavra que eu quero) Harry Fabian com a bonita bela linda sublime excelsa Gene Tierney. É um dos meus três, quatro, cinco ou dez noirs de eleição (como também o é "Pickup...", de resto).

De chofre recordo outro filme com Widmark: "Two Rode Together" ("Terra Bruta"), 1961, um dos Fords mais tardios - entre "Seargent Rutdlege", 1960, e "The Man Who Shot Liberty Valance", 1962, com Widmark lado a lado com outro mito, James Stewart. Ford baralha as cartas e volta a dar; as regras do jogo mudam para o espectador: as pré-concebidas ideias que temos de Widmark e Stewart são invertidas: é fácil de simpatizar com Widmark, corajoso tenente de cavalaria, enquanto que Stewart, o sempre easy to like Stewart, faz de tudo para que assim não o seja. (Ford, genial.)

Última memória de Widmark actor vai para "Madigan", 1968, retrato da podridão no meio policial de Nova Iorque, um dos não muito conhecidos ou admirados filmes de Don Siegel. Aqui, Widmark, já com cinquenta e muitos anos, contracena com outro gigante, com outro easy to like actor americano (o maior deles todos?): Henry Fonda.

No final, no final de tanto papel de "duro", de tanto papel de tipo imperfeito, mesmo perverso, uma única certeza: era difícil não se gostar de Widmark. Um tipo acorda e lê que o Widmark morreu.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Titanik Bar



(descobrir um Titanic Bar português, bar de karaoke, em Murça, Vila Real, é pormenor delicioso.)

Béla Tarr

"(...) Pois o cinema de Béla Tarr joga também com um formidável poder hipnótico, do qual a duração é elemento essencial mas não único. A música (as canções tristes e populares da Hungria que acompanham e habitam inúmeros planos) tem um importante contributo, e de certa forma reivindica-se, com provocação, como facilidade, instrumento de sedução, poder enfeitiçante. A música faz um trabalho de passador, introduz-nos numa outra dimensão que não pretende descrever o real mas oferecer estados de consciência, sensações metafísicas: o que é estar sobre-presente no mundo, por exemplo? O que é a sensação pura do tempo? Se quisermos, haveria aí um ponto comum com o DEAD MAN de Jim Jarmusch. Nos dois casos a música participa num regime cinematográfico particular, deixa de ser mero contraponto narrativo para procurar atingir as portas da percepção.
Mas Béla Tarr também utiliza com certa habilidade a confusão dos elementos, produzindo mais uma vez um poderoso efeito de perturbação. Diz que "um filme não pode em caso nenhum ser identificado com uma simples história humana ou, mais exactamente, [é preciso colocar] esta história humana num sistema de relações (...) onde uma parede possa ter a mesma significação dramática que uma acção que se desenrola entre duas pessas". E na verdade a dialéctica do movimento e da imobilidade, do humano e do desumano, funciona em pleno; o que é aqui imóvel e petrificado são os homens que esperam, o quê ao certo?, enquanto a câmara, em lentos e elegantes movimentos, sobretudo em belíssimos travellings, não cessa de percorrer o mundo e de dar vida às pedras. Como num plano de "Perdição", por exemplo: um prédio deteriorado numa cidade perdida, a câmara percorre lentamente o rés-do-chão, a chuva cai com tanta força nas paredes que é evidente que não é chuva, antes uma mangueira para combater incêndios. Em cada entrada há um grupo de homens e de mulheres, apáticos, petrificados, olhando para coisa nenhuma. A chuva diluviana continua a cair, o mundo vai certamente afogar-se depressa, será possível que os homens assistam assim ao seu naufrágio, será possível que tenham renunciado a mexer-se? Sim, diz o filme, é possível. A metáfora religiosa é evidente. Deus abandonou o mundo, sem enviar nenhum Noé que salve os homens. Não há esperança, resta apenas esperar. Imóveis, ou então dançando. Porque a dança parece ser o último prazer do homem, Não serve para salvar nada, uma vez que o salão de baile de "Perdição" se chama Titanic Bar e que o tango é de Satanás. A dança não salva nada, mas pelo menos é uma ocupação, dura muito tempo, e como muitas vezes se mistura com álcool, é uma ocupação ainda melhor."

Stéphane Bouquet, Cahiers do Cinéma nº 510, Fevereiro de 1997
Tradução de Luís Miguel Oliveira
"Béla Tarr", Edição Cinemateca/Museu do Cinema, Setembro de 1997

(um livro encarnado vivo de vinte e poucas páginas comprado há coisa de um ano por 2 euros e 49 na Cinemateca; precioso, precioso)

Botas suaves

(isto não é, não pode ser sequer, um post sobre o Getafe)

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"Laudrup y sus botas suaves. Laudrup, el que le encuentra huecos a los muros. Michael Laudrup en sus últimas salidas al escenario porque el tiempo les gana a todos, tambiém a los que son distintos. Participaciones aisladas, en zonas neutras de la cancha; menos agilidad física para acompañar sus fascinantes reflejos. Sin embargo, en ocasiones la pelota se pone a descansar en sus pies y él levanta la cabeza para mirar al sitio contrario adonde va a dirigir el pase. Entonces recordamos que su fútbol estaba hecho de un material desconocido, mezcla de seda e imaginación, y lo empezamos a despedir con nostalgia adelantada."

Jorge Valdano, "El miedo escénico y otras hierbas", pág. 135

a dúvida

Foi assunto que sempre fez uma confusão danada aqui ao pateta alegre. Se no sul dos Estados Unidos há pretos (muitos) e se esses votos tendem a ser mais (muito mais) democratas que republicanos... Por que raio o sul é zona de "red states"?

Bill Clinton na sua primeira eleição em 1992 ganhou o Arkansas (estado onde nasceu e foi governador durante mais de uma década), Louisiana, Tennessee e Georgia; mas perdeu no Texas, Mississipi, Alabama, Florida e Carolina do Sul. Em 1996, repete-se o panorama com duas alterações: perde Georgia e ganha na Florida. Em 2000 e 2004, aquilo foi tudo - mas tudo mesmo - varrido por George W. Bush. Mais longe, antes de Bill Clinton, o descalabro democrata: Bush pai, 1988; Reagan*, 1984, 1980. Limpinho.

A resposta é fácil se um tipo pensar dois minutos ou ler o que outros pensaram por ele:


The blacker the state, the wider George W. Bush's victory margins were in the southern states in 2004. Again, this is not because blacks fail to turn out (they do) or fail to vote Democratic (they do), but because the blacker the state the more Republican the white voters vote. (aqui, por Tom Schaller)


Exemplo máximo da tal polarização racial de que tanto se fala nos Estados Unidos.

(* Reparo que o Minnesota, por alguma razão que me interessa muito saber qual, nunca gostou do Reagan. À boleia lembrei-me daquele resumo de um dos Coen: "Minnesota is like Siberia with family restaurants".)

quinta-feira, 20 de março de 2008

Hugo Claus

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Soube-o ontem à tarde: morreu Hugo Claus, escritor belga, 78 anos, por eutanásia. Sofria de Alzheimer. Não me choca nem a sua morte física nem a forma escolhida para morrer. (Nem o sabia doente e da última vez que nele pensei, ao tentar arrumar uma incontrolável desordem de livros e de papéis em cima da mesa, imaginei-o feliz da vida algures na Flandres - com uma Duvel ou uma Leffe pela frente.) Choca-me só o desaparecimento de um escritor raro: alguém que descobres, que lês com tal alegria frenética que queres que seja só teu - és um egoísta por excelência nesta matéria -, alguém de quem não te queres desligar nunca. Daí, provavelmente, ter ainda por ler "O Desgosto da Bélgica", romance mais célebre de Hugo Claus, livro para mais de meio milhar de páginas, comprado na última feira do livro em conjunto com "A Caça aos Patos" e "Rumores" (tudo na Asa, tudo barateco; "O Desgosto da Bélgica" ficou por ler para uma época porvir - saber o livro lá, à minha espera, dá-me uma espécie de conforto). Hugo Claus, por "A Caça aos Patos" e por "Rumores", cá ficou algures numa nesga de cérebro como um dos meus escritores. Clube restrito. Acontece de tempos a tempos; Claus era dessa estirpe escassa de escritores: apaixonas-te página a página, pela narrativa inteligente, súbtil, não raras vezes ácida perante o seu próprio povo e país. Assim era a escrita de Claus, nome recorrente nos últimos anos quando se falava de Nobel da Literatura. Era, para mais, poeta, dramaturgo, pintor, e chegou, li algures, a realizar uns quantos filmes. Opto por nem sequer procurá-los, aos filmes, bastam-me os livros - conto agarrar-me a "O Desgosto da Bélgica" por estes dias. Arrisco que Hugo Claus será por cá mais notado pela eutanásia (permitida pela legislação belga), do que por aquilo que escreveu. É uma pena se assim for.

(Este livro de poemas - edição espanhola - tem muito bom aspecto e um título fino que só por si dá capricho de comprar.)

(Reli o texto. Comprometo-me a não repetir obituários do género. São vulgares até ao osso; odeio isso. Nem com o Salinger farei semelhante coisa.)

quarta-feira, 12 de março de 2008

100% reporting

Obama: 61%
Clinton: 37

Mais de vinte pontos à maior, resultados não muito distantes dos registados no Alabama e Louisiana (que escrito assim soa a estado agradável para passar uma temporada; escrito "Luisiana" como se impõe soa a estado mal-parecido à brava com "rednecks" e caçadeiras a rodos), tudo ilustremente bem esmiuçado pela msnbc: ganhou nos homens, nas mulheres, esmagou no voto negro (92-8), perdeu e por muito no voto branco (70-26) - sinal evidente de território polarizado racialmente como poucos -, venceu dos 17 aos 59 anos, perdeu dos 60 para cima (52-47 para Clinton).

Daqui até à Pensilvânia faltam seis semanas. Uma eternidade. Uma porrada de delegados em disputa (188). É região, dizem todas as sondagens, de Hillary Clinton - a última de que tenho conhecimento dá 55-36 para Clinton - que joga aí, again, a sua sobrevivência na corrida; tem de ganhar, tem de fazê-lo em grande; Hillary, Bill e Chelsea já por lá se encontram em campanha. O objectivo de Obama é atenuar as diferenças. Uma margem menor que dez por cento era simpática. Relembre-se, o que mais importa é o número de delegados ganhos, e os democratas têm um sistema de distribuição de delegados proporcional para todos os estados. Ao invés, os republicanos, nalguns estados, adoptaram um sistema de "vencedor-do-estado-leva-todos-os-delegados-em-jogo" - uma das possíveis explicações para a confusão permanente no lado democrata vs. quietação no lado republicano. Perder por poucos e, se possível, enervar Hillary nestas seis semanas - tempo imenso para tal. Ando a dormir tão pouco. Sonhei com o Daudet. Há obras no prédio logo às oito e tal da manhã. Não fiz a barba. Tenho fome. Preciso de rever o "There Will Be Blood".

Samantha Power

Um dos cérebros mais bonitos dos democratas foi notícia no final da semana passada. Notícia pelas piores razões: Samantha Power, em entrevista ao jornal The Scotsman, lembrou-se de chamar "monstro" a Hillary Clinton. A citação exacta: "'She is a monster, too – that is off the record – she is stooping to anything,' Ms Power said, hastily trying to withdraw her remark". Ignore-se (ou tente-se) a parte em que Power diz "that is off the record"... O comentário é infeliz, escusado, exagerado, etc.; Samantha Power demitiu-se quase na hora de conselheira para a política externa de Barack Obama, e pediu as devidas desculpas à senadora de Nova Iorque - momento de fraqueza face às tácticas da campanha de Clinton nas últimas semanas, justificou. Convém dizer que Power não era, sequer, remunerada da campanha de Barack Obama - o que não atenua o que foi dito, mas importa ser sublinhado. No meio deste caso que não é assim tão caso - quem votaria em Obama não deixará de fazê-lo por um comentário de uma assessora - que importa reter? Interessa saber quem é esta Samantha Power; que papel teve até aqui na campanha-Obama; que papel não deixará de ter (acredito eu) caso Obama vença isto tudo no final.

Power, americana nascida na Irlanda, andou por Yale e doutorou-se em Harvard, trabalhou como jornalista - correspondente de guerra na ex-Jugoslávia -, e depois ganhou o Pullitzer em 2003 com este livro: "A Problem from Hell: America and the Age of Genocide", estudo sobre o genocídio durante o século XX (Iraque, Bósnia, Ruanda, Kosovo, Darfur, etc.) e as diferentes respostas dos Estados Unidos ao tema.
"Chasing the Flame: Sergio Vieira De Mello and the Fight to Save the World" é o seu mais recente livro, mui recentemente publicado. Power tem uma coluna na revista Time e é professora em Harvard e podem - altamente recomendado para quem tenha muito tempo livre entre as mãos - ler uma série de artigos seus aqui. É pelo genocídio no Darfur que Power conhece e passa a trabalhar com/aconselhar Barack Obama em matérias de política externa:


"In 2004, I came out of election night just completely depressed," Power says. "We thought Kerry would win and we'd all get a chance to change the world. But then it was like, 'Nah, same old thing.' " Obama gave her a place to channel her energy. She advised him on the genocide in Darfur, an issue that most politicians at the time were studiously avoiding. "He's a sponge," Power says. "He pushes so hard on policy ideas that fifteen minutes after you've started talking, he's sent you back to the drawing board. He doesn't get weighted down by the limits of American power, but he sees you have to grasp those limits in order to transcend them." (aqui)


É uma pena que Power saia da campanha de Obama desta forma, por uma estupidez de uma frase que pode muito bem pensar, mas jamais pode dizer. Era também inevitável: numa campanha que apregoa ser diferente, de tom unificador, que deseja não descer o nível dos ataques e respostas, não havia outra saída para Power. Face a uma campanha cada vez mais violenta por parte de Hillary Clinton e face a mais anúncios foleiros que aí virão (ao nível do já famoso-toque-de-telefone-às-três-da-manhã), desconfio que estas premissas de campanha “limpa” não possam ser cumpridas na íntegra até ao fim desta bodega. Mas que dure enquanto puder - não custa nada tentar, e, para todos os efeitos, Obama vai à frente na corrida democrata; é natural que Clinton ataque, nada mais lhe resta senão isso. (Se a campanha de Clinton lança hoje fortes ataques, a campanha de McCain lançá-los-á cem vezes mais fortes, cem vezes mais torpes. Obama deverá – terá de... – estar preparado para isto.) Quanto ao resto: tenho dúvidas que Samantha Power se descarte de facto de Obama. Atentem nisto e nisto e nisto - é tempo ganho; nem que seja só pelo cenário da BBC. Não é só pensar bem, é a celeridade com que o faz e a certeza das respostas que pasmam - tenho para mim que não entendi nadinha do que disse, mas fico encantado da vida só de a ouvir. Um cérebro bonito como este merece todo o carinho que a humanidade em geral e Obama em particular lhe puder dispensar.

Alopecia

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Estou tão contente com isto tudo: a Pitchfork deu 8,2 ao "Alopecia", o novo disco dos Why?. Já o "Oaklandazulasylum", disco a solo de Jonathan "Yoni" Wolf, era tão perfeitito. Caralho, o som é péssimo e a imagem idem, mas é ouvir é ouvir.

(O assistente do Owen Wilson no "The Darjeeling Limited" tinha o quê tinha o quê? Alopecia. Entendem? Isto está tudo muitíssimo bem ligado.)

"caucus"

Obama papa os "caucus" quase todos: vitórias no Iowa, Alasca, Colorado, Idaho, Kansas, Minnesota, Dakota do Norte, Nebrasca, Washington (estado), Maine, Havai, Wyoming, e é provável que me escape um ou outro... Outro que se soube hoje: no próprio Texas, que adopta um estranhíssimo sistema misto de eleição directa com "caucus" (uns "primaucus"), Obama venceu neste último processo. Ao que parece, sai do TX com igual número de delegados que Hillary Clinton - que ficou com a vitória pública da coisa. Já Hillary, por "caucus", se estudei decentemente a lição, só ganhou o Nevada e o Novo México. (E na Samoa Americana.) Estados a mais que permitem falar em diferenças óbvias por esta altura: ao nível de motivação dos seus votantes - grosso modo mais jovens, mais entusiastas -, ao nível de organização, a máquina Obama tem vindo a meter a de Clinton no bolso. Nos dois.

The Wire

Não há blogger político americano do meu agrado que não venere a série criada por David Simon. Que fique assente: eu descobri-a primeiro que aqueles tipos todos. Faltou-me foi dinheiro para mandar vir as restantes séries. E os cabrestos têm HBO enquanto eu, descobri há dias, algures por ali tenho o Tv Bulgaria.

Winner:

Barack Obama. Prevê a CNN. Demorou pouco. (No-ta: es-cre-ver so-bre a Sa-man-tha Po-wer.)

James Carville...

era o nome do careca que aqui me escapava. Andava doido pelo nome do careca. É apoiante da Hillary. Gosta da Samantha Power - diz que a Samantha devia ter permanecido na campanha do Obama. (Brotou algures um escandalito semelhante na campanha Clinton envolvendo a Geraldine Ferraro - escapou-me, carai, de todo.) Há gente bem perspicaz por aí: o Carville é bem parecido com o Gollum.

* "Geraldine Ferraro lets her emotions do the talking" - é isto, parece-me; só leio mañana quando acordar, mas já tenho uma firme e péssima ideia da senhora. Má!

live blogging

Consta que é isto. Freak, sim, muito. Mas isto é pior. (Eu gosto do Matthew Yglesias.)

African-american voters

Percentagem de 91-9 para Barack Obama. Previsão da CNN. O Wolf Blitzer, porém, conta que não estão ainda preparados para anunciar o vencedor no Mississipi. É melhor, sim, não vá o resto sem excepção votar na Clinton. São números aflitivos para Hillary - Bill era um tipo bem popular na população negra. Há explicação para isto, claro, há sim. Estou farto fartinho de Martini.

terça-feira, 11 de março de 2008

Mississípi (ou Mississippi ou Mississipi) é o estado do Faulkner

O espectro político americano anda bem recreado com o escândalo Spitzer - superdelegado de Clinton, por azar da senadora de NY - ("espectro político" é uma daquelas expressões a só usar de novo sob tortura), mas interessante interessante é o Mississipi: estão 33 delegados comprometidos em jogo (mais 7 superdelegados) num estado moldado para Barack Obama: ganhou nos dois estados vizinhos mais semelhantes: Alabama (56-42) e Louisiana (57-36); e nenhum destes por "caucus" - onde Obama se mostra quase quase imbatível -, mas por eleição directa como a de hoje. Para mais, o Mississípi será um dos estados em que o peso do voto da população negra (que mostra seguir em maioria esmagadora para Obama) mais se fará notar: 37 por cento da população total ou números não muito distantes disso. Tudo bons indícios para uma vitória do senador do Illinois hoje à noite. As últimas sondagens conhecidas também atestam a ideia.

Mais primárias - importantíssimas por sinal (188 delegados) - só daqui a um mês na Pensilvânia (22 de Abril). (Teria dado muito mais cenário ter escrito Pennsylvania.)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Dan Snaith, ex-Manitoba...

agora Caribou, quarta próxima no Santiago Alquimista. O "Andorra" é álbum para ter sido dos meus favoritos de 2007. Comparativamente a anos anteriores ouvi coisa pouca. Fiz as usuais listas (de cinema, de música, de livros) mentalmente; esqueci-me delas entrementes. A de música, do que me recordo, era assim: 1º The National, "Boxer"; 2º Robert Wyatt, "Comicopera". Sou um rapaz simples: dois discos destes, sublimes, por ano, bastam-me.

O restante que tenho em boa estima de 2007 que se espalhe ao acaso na tal lista que não existe. Bill Callahan (sempre, sempre), Kevin Ayers, Joe Henry, Amon Tobin, Bon Iver, Besnard Lakes (escutai, pela vossa saúde, isto). Mais Caribou. Mais, talvez, não tenho a certeza, Vieux Farka Touré. Persegui durante boa parte do ano o último Danny Cohen, "Shades of Dorian Gray", mas o canalha do disco, por isto e por muito aquilo, fugiu-me.

E duas escolhas portuguesas: 1º JP Simões, "1970"; 2º Amélia Muge, "Não Sou Daqui". Ou ao contrário.

"imagine que..."

Hillary ganha os restantes estados de enfiada - a juntar a Ohio, Texas e Rhode Island de ontem. Tal é inimaginável, mas "imagine que..."; nem assim a vista lhe será favorável. Artigo de Jonathan Alter na Newsweek:


"Hillary Clinton may be poised for a big night tonight, with wins in Ohio, Texas and Rhode Island. Clinton aides say this will be the beginning of her comeback against Barack Obama. There's only one problem with this analysis: they can't count.

I'm no good at math either, but with the help of Slate’s Delegate Calculator I've scoped out the rest of the primaries, and even if you assume huge Hillary wins from here on out, the numbers don't look good for Clinton. In order to show how deep a hole she's in, I've given her the benefit of the doubt every week for the rest of the primaries.

So here we go: Let's assume Hillary beats expectations and wins Ohio tonight 55-45, Rhode Island 55-45, Texas, 53-47 and (this is highly improbable), ties in Vermont, 50-50.

Then it's on to Wyoming on Saturday, where, let's say, the momentum of today helps her win 53-47. Next Tuesday in Mississippi—where African-Americans play a big role in the Democratic primary—she shocks the political world by winning 52-48.

Then on April 22, the big one, Pennsylvania—and it's a Hillary blowout, 60-40, with Clinton picking up a whopping 32 delegates. She wins both of Guam's two delegates on May 30, and Indiana's proximity to Illinois does Obama no good on May 6, with the Hoosiers going for Hillary 55-45. The same day brings another huge upset in a heavily African-American state: enough North Carolina blacks desert Obama to give the state to Hillary 52-48, netting her five more delegates.

Suppose May 13 in West Virginia is no kinder to Obama, and he loses by double digits, netting Clinton two delegates. The identical 55-45 result on May 20 in Kentucky nets her five more. The same day brings Oregon, a classic Obama state. Oops! He loses there 52-48. Hillary wins by 10 in Montana and South Dakota on June 3, and primary season ends on June 7 in Puerto Rico with another big Viva Clinton! Hillary pulls off a 60-40 landslide, giving her another 11 delegates. She has enjoyed a string of 16 victories in a row over three months.

So at the end of regulation, Hillary's the nominee, right? Actually, this much-too-generous scenario (which doesn't even account for Texas's weird "pri-caucus" system, which favors Obama in delegate selection) still leaves the pledged-delegate score at 1,634 for Obama to 1,576 for Clinton. That's a 58-delegate lead.

Let's say the Democratic National Committee schedules do-overs in Florida and (heavily African-American) Michigan. Hillary wins big yet again. But the chances of her netting 56 delegates out of those two states would require two more huge margins. (Unfortunately the Slate calculator isn't helping me here.)

So no matter how you cut it, Obama will almost certainly end the primaries with a pledged-delegate lead, courtesy of all those landslides in February. Hillary would then have to convince the uncommitted superdelegates to reverse the will of the people. Even coming off a big Hillary winning streak, few if any superdelegates will be inclined to do so. For politicians to upend what the voters have decided might be a tad, well, suicidal.

For all of those who have been trashing me for saying this thing is over, please feel free to do your own math. Give Hillary 75 percent in Kentucky and Indiana. Give her a blowout in Oregon. You will still have a hard time getting her through the process with a pledged-delegate lead.

The Clintonites can spin to their heart's content about how Obama can't carry any large states besides Illinois. How he can't close the deal. How they've got the Big Mo now.

Tell it to Slate's Delegate Calculator.
"

matemática de delegados

* A Win Is Not A Win

* Vermont May Be The Most Important State Of The Night


(dois artigos de Marc Ambinder)

terça-feira, 4 de março de 2008

a Robin Wright Penn fascina-me desde muito niño...

e hoje há primárias no Texas e no Ohio (e em Vermont e Rhode Island, mas aqui pouco interessa: Vermont é de Obama, RI de Hillary). Noite então propícia ao Red Bull e tema mui premente para o meu efémero contentamento. Obama, olhando para todas as sondagens dos últimos meses, teve uma notável recuperação no Ohio - fruto do seu "momentum", das onze vitórias seguidas, da sua organizada máquina política e das ilimitadas doações que a sua campanha vai arrecadando -, mas tenho assente nos neurónios que Hillary aí vencerá - é precisamente aí, em Columbus, que Hillary tem discurso marcado.

No Texas joga-se grande parte da noite. Para Hillary não chega ganhar no Ohio; é um "must win" nos dois estados como o próprio Bill Clinton já admitiu. Ganhe Obama o TX - terceiro estado que mais delegados fornece aos democratas (228) - e, palpite meu e de um "estratega" democrata careca que ouvi na CNN há um par de semanas entrevistado pelo Anderson Cooper, a eleição democrata é dele por muito que Hillary esperneie e resolva arrastar a coisa até às últimas consequências - leia-se nisto, até à convenção do partido em Denver, lá para Agosto, com tudo o que de nefasto ou importuno isto pode causar ao nomeado democrata, com tudo o que de benéfico isto pode trazer a John McCain. (Pode, em itálico, longe de ser certo - explico lá mais para baixo se isto correr bem.) Perca o Texas e as pressões sobre Hillary dentro do partido para que abandone serão mais do que muitas.

O problema reside nisto: (e aqui vem outro palpite revelador do meu insigne génio:) se as sondagens de ontem dão o Texas para Obama - ainda que por uma curtíssima margem percentual -, eu digo que o estado onde nasceu Wes Anderson e Owen Wilson, Tommy Lee Jones e Kris Kristofferson, Patricia Highsmith e Ornette Coleman, Anna Nicole Smith e Robin Wright Penn (está encontrada a perfeita justificação para o título), Woody Harrelson e o seu peculiar papá, o estado que viu crescer e onde habita Terry Malick - enfim, passei uma boa meia hora entretido nisto na Wikipedia -, acabará por cair para Mrs. Clinton. Causas? Os 30 a 40 por cento de hispânicos no estado e os seus últimos discursos tidos de cariz mais "populista" ao bom estilo John Edwards. (Nota aqui: o "populismo" de Edwards é muito do meu agrado, mesmo; tenho para mim que daria um vice perto do ideal para Obama; o ideal seria a própria Clinton mas parece impossível, adiante.) E este cenário de dupla vitória de Clinton é uma maçada daquelas para o partido democrata.

Só altas e improváveis diferenças percentuais - hoje e nas próximas primárias - permitirão a Hillary alcançar os delegados comprometidos de Obama, mas ganhar no Texas e Ohio, mesmo que à tangente, mesmo que com uma irrisória aproximação quanto ao número de delegados, dar-lhe-á justificação de sobra para se manter na corrida e tentar quebrar a corrente de Obama. Ganhará, afinal, os "big states": os de hoje, a serem ganhos, juntar-se-ão a Califórnia, NY, NJ, Massachusetts. Como contraprova, Obama terá a apresentar Illinois, o "seu" próprio terreno, onde ganhar não era só expectável - era exigível -, bem como uma série admirável de estados mais pequenos.

Se Obama não ganhar hoje no Texas, se Obama não ganhar nas primárias da Pensilvânia (22 de Abril, 188 delegados), se Obama não descolar de Hillary até 7 de Junho (nos "caucus" de Puerto Rico), no pior do pior dos cenários para os democratas, a eleição arrasta-se até à convenção. Aí o caso complica-se: prevê-se "sangue" entre os candidatos e um partido partido ao meio frente ao mais forte candidato que os republicanos podiam apresentar – tenho dúvidas que os próprios republicanos o saibam, mas qualquer outro nomeado que não McCain seria, estou convencidíssimo, esmagado, de tão péssimos que eram. (Lamente-se que em 2000 não tenha sido McCain o republicano escolhido, lamente-se as tácticas na altura usadas pela campanha de Bush e hoje aparentemente esquecidas por McCain.)

Volte-se aos democratas: este cenário fratricida na convenção, se evitável, melhor; caso contrário, não o encaro como catastrófico ou decisivo para uma eventual vitória final de McCain em Novembro - a excepção será Obama chegar à convenção com mais delegados comprometidos e perder pelos superdelegados: era escandaleira e "hara-kiri" democrata.
(Regresso então ao pode:) Mas considere-se pois que tudo se resolve na pior paisagem para os democratas: o tempo de antena no Pepsi Center em Denver para aquela convenção será ilitimado; e se McCain poderá ganhar uma aura de candidato "único", que se passeará pelos estados americanos à espera de oponente, não é menos verdade que a atenção de tudo e todos continuará por inteira, como até aqui, do lado dos democratas.

Mais dois pontos: a) McCain tem ainda muitos votos republicanos por convencer, a tal base conservadora que olha de soslaio para o veterano de guerra, mas liberal em demasia: e se ceder à direita - como muitos do seu partido estarão à espera -, perderá o centro, onde a mensagem de Obama tem propagado de forma espantosa, e onde tudo, como sempre, se decidirá; e b) a comparência às urnas por parte dos eleitores democratas tem dobrado, pelo menos, a dos republicanos em todos estados - o que mostra um partido, dividido ou não, altamente motivado em romper com os 8 anos de Bush na Casa Branca.


(Declaração de interesses: Este blogue torce e sofre por Obama mais, muito mais, do que pelo clube onde joga Milan Purovic. Culpo o Ted Sorensen e os 37 mil caracteres do texto do Andrew Sullivan e o talento de Barack para o basquetebol - nº23 - por isso. Reconheço simpatia por Clinton - nem que seja pela apoplexia que só o seu nome causa aos mais acérrimos republicanos -, e o senador do Arizona, vejam lá bem, é um tipo que não odeio - "republicanamente" falando, evidente. Simplifique-se a coisa: nas minhas preferências: Obama > Obama > Obama > Obama > Obama> Obama > Obama > Obama > Hillary Clinton > McCain.)

(Não quero que vos falte nada: a Robin Wright Penn e o Sean Penn vão-se divorciar; ambos apoiavam o Kucinich.)

Nina Mouritzen

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Yellow Highway, Copenhagen, 2002



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Night Sky, 2002



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Broome Street, 2004



Mais fotos da dinamarquesa - descoberta pela recém descoberta do trabalho de Wolfgang Tillmans * - por aqui: www.ninamouritzen.com. As músicas são de Jackson C. Frank. A pobre e pouco hábil associação é minha.

* Tillmans, por seu turno, descoberto numa canção de génio (como outras duas ou três ou quatro ou cinco ou...) de Stephin Merritt - depois, eventualmente, explico.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Roberto Bolaño

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* artigo sobre o chileno na The New Yorker;

* James Wood no The New York Times;

* Francine Prose no mesmo sítio;

* João Paulo Sousa no Da Literatura - vem aí, edição da Teorema, "Os Detectives Selvagens", obra maior de Bolaño.

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«I always contradict myself»

Richard Burton em Bitter Victory, de Nicholas Ray.